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domingo, 27 de dezembro de 2009

VAGNER, BLOGA DE NOVO SOBRE MEDEIA

>> ESPAÇO CULTURAL - PELOTAS / RS <<







Medéia: Talento Não Tem Idade



Por volta das 19:30, mais de cem pessoas lotaram o teatro do Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), no dia 15 de Dezembro de 2009, para assistirem ao processo de montagem do texto Medéia, de Eurípedes, representado por Josiane Almada, aluna do segundo ano de ensino médio da Escola Estadual Joaquim Duval, coordenado pela professora de Literatura Dagma Colomby. Certamente, foi um grande desafio para uma adolescente de 19 anos enfrentar uma platéia lotada de atores, diretores, professores de teatro e alunos das faculdades de dança, teatro, cinema, música e artes visuais da UFPEL, além do público em geral.
Neste sentido, saliento o virtuosismo com que Josiane interpretou Medéia, uma mulher com mais de quarenta anos, amargurada pelos dissabores da vida que, em um momento de loucura, acaba matando os próprios filhos, no intuito de vingar-se do ex-marido, após ele ter se casado com uma mulher mais jovem. Sendo assim, o que mais chamou atenção não foi apenas a capacidade interpretativa da jovem atriz, mas sim, a compreensão que esta adolescente apresentava de cada palavra do texto, expondo todo o denso universo psicológico que Medéia exige. Relato estes fatos, pois, atualmente, com uma triste constância observamos muitas pessoas subirem ao palco, intitularem-se atores, sem sequer significarem o texto dito pelas personagens e ainda chamarem isto de teatro.
Outro aspecto importante, refere-se ao fato do trabalho evidente em vertentes baseadas em poéticas do teatro físico, tratando o ator como um elemento orgânico, onde observamos todo o contexto sendo contado através da fusão dos aspectos físicos e psicológicos da personagem. Estas características estavam presentes neste trabalho e seu crédito deve-se, em grande parte, ao brilhante trabalho da professora Dagma Colomby, a qual, além de diretora de teatro e atriz há mais de 20 anos nesta cidade, soube conduzir, com maestria, o trabalho de sua aluna. Deste modo, percebe-se o eficiente labor de uma educadora capaz de descobrir os meios possíveis para alcançar a significação do processo criativo por parte de seus alunos. Além disso, Dagma e Josiane construíram um trabalho competente, no qual seus referenciais as levou a criar uma atmosfera que transcendeu aos limites do palco, envolvendo todos os presentes. Em função disso, não foram poucas as vezes em que era possível ouvir o choro da platéia comungando com o sofrimento e a loucura de Medéia.
Em consonância com o que foi dito acima, reafirmo que a batalha de uma professora e uma aluna de ensino médio, de uma escola pública, distante do perímetro central desta cidade ao levarem o seu trabalho artístico para apreciação de um público acadêmico, dentro da própria Universidade, foi vencida com o brilhantismo e a sensibilidade que somente os verdadeiros artistas possuem. Desta forma, espero que o nome Josiane Almada seja uma constante em futuros espetáculos teatrais. Ademais, anseio que o trabalho da diretora Dagma Colomby obtenha o devido respeito que merece. Entretanto, ainda sinto falta desta atriz novamente nos palcos pelotenses. Esta situação deve-se muito ao fato de há alguns anos Dagma dedicar-se ao fomento da arte teatral no Bairro Santa Teresinha, em Pelotas, agregando mais de cem pessoas em seu trabalho de experimentação teatral.
Portanto, espero que os preconceitos intelectuais do centro e zonas “nobres” desta cidade consigam ter o respeito e humildade em identificar que o talento surge independentemente de sua situação socioeconômica e geográfica. Acrescentado-se a isso, almejo que este digno trabalho, construído em uma escola pública, reverbere estimulando o processo criativo em outros locais desta cidade, onde freqüentemente resta apenas a soberba e o saudosismo, já que o público anseia por gozar dos prazeres que somente a arte pode lhes fornecer.
MSc. Vagner Vargas
DRT – Ator – 6606 -Integrante do Clube dos Comentaristas de Espetáculos Teatrais de Pelotas (CCETP).
vagnervarg@yahoo.com.br

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

BLOGANDO SOBRE FEDRA E O BURGUÊS FIDALGO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
INSTITUTO DE ARTES E DESIGN
DEPARTAMENTO DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS
CURSO DE TEATRO – LICENCIATURA
DISCIPLINA : HISTÓRIA DO TEATRO II
DOCENTE : TAÍS FERREIRA









COMPARATIVO ENTRE FEDRA E O BURGUÊS FIDALGO












PELOTAS
2009





TEXTO COMPARATIVO ENTRE FEDRA E O BURGUÊS FIDALGO



O BURGUÊS FIDALGO é uma comédia escrita por Moliere, em 1670, e que acontece em Paris,enquanto que FEDRA é uma tragédia de Racine, que se passa em uma cidade do Peloponeso, mais precisamente, Trezena, 1677.
Fedra conta a história de uma rainha que se apaixona por seu enteado. Mostra-se sempre hostil com o jovem, até que seu esposo, Teseu, é dado como morto. Então ela revela o amor que sente pelo filho do marido e, sentindo-se repelida, permite, a conselho de Enone, sua serva, que o mesmo seja vítima de uma calúnia: ter tentado violado a madrasta. Esta atitude de Fedra pode ser explicado pelo fato de ela , diante da chegada inesperada de Teseu, seu esposo, a quem julgava morto, ter ficado com medo de sua reputação ficar comprometida. O jovem morre. O desfecho é resolvido com a confissão de Fedra, inocentando o enteado da acusação de tentativa de violação, seguido do suicídio da protagonista.
Na tragédia, tanto a protagonista, a própria Fedra, como o coadjuvante, seu enteado, Hipólito, são donos de um caráter nobre: ela disfarça seu amor, simulando um ódio, mas esta atitude é por respeito a Teseu, seu esposo. Hipólito, por sua vez, recusa o amor de Fedra, pois ama Arícia, a princesa de Atenas. A nobreza de Hipólito consiste em nunca desistir de procurar , seu pai, Teseu, que se encontra desaparecido.
O grande conflito de Fedra pode ser nobreza x adultério.
Na comédia O BURGUÊS FIDALGO temos um protagonista que anseia por uma ascensão intelectual. Tem posses, mas falta-lhe o traquejo, a cultura e os conhecimentos gerais. Ele contrata vários professores para aprender tudo o que é preciso para ser bem visto e aceito na sociedade . Não permite o casamento da filha, pois não considera o pretendente digno, socialmente, de ser seu genro. Durante a trama, o burguês fidalgo comete toda a sorte de tolices, inclusive tenta trair a sua esposa, porém é enganado por pessoas que julga serem suas amigas, mas que , somente estão interessadas em seu dinheiro, como é o caso de Dorante . No final, pensando estar casando sua filha com alguém da alta nobreza, permite que a mesma se case com o seu verdadeiro amor. O enamorado aparece vestido de um nobre turco, o qual , os amigos dizem ser idêntico ao antigo amor da moça (recurso cômico). É o conflito da Burguesia x nobreza..



Fedra O Burguês Fidalgo
1.TÍTULO/ AUTOR/ ANO
Fedra/ Racine/ 1677




1. TÍTULO/ AUTOR/ ANO
O Burguês Fidalgo/ Moliere/ 1670
2. GÊNERO
Tragédia




2. GÊNERO
Comédia
3.CARÁTER DAS PERSONAGENS

Fedra: Caráter nobre, personalidade forte, apaixonada.
Enone: Fiel a sua senhora.
Hipólito: Digno, apaixonado por Arícia, fiel à amada e ao pai.




3. CARÁTER DAS PERSONAGENS
O burguês (senhor Jourdain) é frívolo, uma pessoa de caráter duvidoso, infiel à família. Sua esposa é esperta, centrada, realista. Nicole, a empregada é fiel a sua senhora. Dorante, o “amigo” aproveitador. Doriméne é a mulher que acaba casando com Dorante. Cléonte é o namorado de Lucile, a filha do burguês, mas o aprendiz de fidalgo não quer este namoro. Covielle é o namorado da empregada,

4.DESCRIÇÃO DO PROTAGONISTA

Fedra é rainha da antiga Grécia, uma mulher de personalidade forte, mas que se deixa trair pelo amor que tem por seu enteado Hipólito. Pode-se dizer que a protagonista apresenta grandes virtudes, como disfarçar o amor pelo enteado para não desrespeitar o esposo e, também, dona de defeitos, pois permite que Hipólito seja acusado de tentar violá-la, para não comprometer sua reputação.



4. DESCRIÇÃO DO PROTAGONISTA

O burguês é uma pessoa sem grandes qualidades intelectuais, almeja um status que não lhe pertence.
5.LINHA DE AÇÃO DRAMÁTICA/ AÇÕES DE FEDRA

Abandono de Teseu.
Teseu ser poupado pelos deuses.
Suicídio de Fedra.
Fuga e morte de Hipólito
Suicídio de Enone ( ama de Fedra )




5. LINHA DE AÇÃO DRAMÁTICA/ AÇÕES DE O BURGUÊS FIDALGO

Sr. Jordain toma aulas para ficar culto.
A disputa entre os profissionais que lecionam para o Sr. Jordain, para ganhar vantagens.
Sr. Jordain empresta dinheiro a Dorante.
O burguês proíbe Lucile de namorar com Cléonte.
O burguês tenta enganar sua esposa e é desmascarado.
O Burguês é enganado pelos falsos amigos e por sua esposa.
Sua filha acaba se casando com Cléonte.
6.DESFECHO

O desfecho ocorre com a confissão de Fedra, inocentando o enteado da calúnia de tê-la tentado violar, posteriormente a protagonista se suicida.



6. DESFECHO

Ocorre com o casamento de Lucile com Cléonte. Através de uma farsa, os enamorados conseguem enganar o burguês e acabam se casando.
7. CONFLITO CENTRAL

Nobreza x Adultério


7. CONFLITO CENTRAL

burguesia x nobreza
8.UNIVERSO DA PEÇA

As ações da peça acontecem em Trezena, cidade do Peloponeso.






9. RECURSOS TRÁGICOS/ CÔMICOS PROPOSTOS PELA DRAMATURGIA

Fedra envenena-se.





8. UNIVERSO DA PEÇA

As ações da peça acontecem em Paris, na mansão do senhor Jourdien





9. RECURSOS TRÁGICOS/ CÔMICOS PROPOSTOS PELA DRAMATURGIA

Vestir-se de Turco para enganar o burguês fidalgo.






COMPONENTES: Dionatã e Dagma

BLOGANDO SOBRE MEU MUSEU IMAGINÁRIO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
INSTITUTO DE ARTES E DESIGN
DEPARTAMENTO DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS
CURSO DE TEATRO - LICENCIATURA







MEU MUSEU IMAGINÁRIO...




UM STRIPTEASE PARA A PROFESSORA MARINA DE OLIVEIRA









Trabalho apresentado à disciplina de
Fundamentos da Linguagem Teatral,
DMAC,
Universidade Federal de Pelotas
Professora Marina de Oliveira






DAGMA COLOMBY

APRESENTAÇÃO



Quando a professora sugeriu este trabalho fiquei muito empolgada, pois acreditei que iríamos apresentar para os colegas. Eu estava ansiosa para falar, debater, trocar idéias, então ela já foi avisando: “ o trabalho será escrito, vai dar para vocês se mostrarem bastante, mas tomem cuidado... será escrito “. Fiquei pensando: o que ela pretende? Avaliar nossa caligrafia? Não pode ser ... teremos de digitar e colocar nas regras da ABNT... Claro... ela quer mais do que uma simples avaliação... quer nos conhecer. Sinta-se à vontade... escrever é uma forma de desnudar-se.
Saber as preferências cinematográficas e literárias é adentrar à intimidade das pessoas.
Mais de vinte anos de teatro amador em escolas públicas , eis aqui, aos quarenta e dois anos, O MEU PRIMEIRO NU ARTÍSTICO
























SOBRE O FILME O SILÊNCIO DOS INOCENTES


Lançado em 1991, o filme O SILÊNCIO DOS INOCENTES, de 114 m , que retrata a história de uma jovem agente do FBI tentando capturar um perigoso assassino e contando, para isso, com a ajuda de outro assassino não menos perigoso, o psiquiatra Hanniball Lecter, encarcerado por suas práticas de canibalismo. Baseado na obra de de Thomas Harris, e direção de Jonathan Demme, o filme amealhou cinco Oscar , além de ser considerado um marco na história do suspense americano, pois está para o gênero do serial killer assim como O poderoso Chefão está para a máfia, além de representar um salto qualitativo na carreiras dos protagonistas Anthony Hopkings e Jodie Foster.
O suspense americano, o gênero do serial killer se divide em dois momentos: antes e depois de O Silêncio dos inocentes.


MINHAS CONSIDERAÇÕES SOBRE “O SILÊNCIO DOS INOCENTES”

Quando assisti o filme “O SILÊNCIO DOS INOCENTES ” há muitos anos, saí do cinema em estado de choque, ébria, estarrecida. Era uma época linda de minha vida, fazia pré-vestibular e morava com o meu professor de Literatura. Cheguei no cursinho triste e ele perguntou: que aconteceu, Perereca? ( era como ele me chamava, carinhosamente) E eu respondi: fui despejada, estou sem dinheiro, a vida é uma tragédia grega, só não furo os meus olhos porque sou míope, só não mato os meus filhos porque sou virgem, não os tenho. Ele me olhou tão terno e disse: quer morar comigo? Fui morar com ele naquele mesmo dia Ficávamos até altas horas da madrugada escutando mpb, bebíamos vinho e ele me ensinava a apreciar as coisas interessantes da vida. Tínhamos um gato siamês chamado Miró e tudo fazia muito sentido. Sempre gostei de homens com o eu- lírico feminino. Até hoje acredito que o homem ideal, o marido perfeito é um amigo gay com quem podemos transar, um homem feminino. Nesse contexto de mpb, jantares, cinema, é que fomos assistir O SILÊNCIO DOS INOCENTES e eu, justo eu, que nunca usei nenhum tipo de alucinógeno, resolvi realizar uma leitura psicológica do filme. Para mim tudo estava muito claro: Clarice Starling e o doutor Hannibal Lecter, o canibal, eram a mesma pessoa: ele, o lado instintivo, o lado animal e ela. o lado racional. Era por isso que o perigoso canibal respeitava tanto a agente do FBI, ele se enxergava nela, admirava-a e ela correspondia. Houve um momento perigoso e de tamanha suavidade no filme que só um olhar muito envolvido poderia compreender. Foi recomendado à agente que utilizasse a gaveta para troca de documento, mas ela se aproximou do vidro e ele tocou os seus dedos com tamanha delicadeza que não poderia ser lido de outra forma , senão como respeito, admiração. Outro grande momento no filme é quando Clarice é ofendida por Miggs, um dos detentos, e o Canibal come a língua do prisioneiro numa espécie de pleito de reverência à agente do FBI. A única forma de pagamento que o Canibal pedia é que ele pudesse conhecer melhor Clarice e foi esse detalhe que me fez enxergar a simbiose, o entrelaçamento dos dois, as cenas transcorriam como uma terapia de auto conhecimento. Lecter desvendou e ajudou Clarice, mais do que ela mesma poderia supor e isso ocorreu quando o psiquiatra fez vir a tona a caipira que existia dentro dela: Starling tentou, ao fugir do rancho, salvar uma ovelha, mas ela, a ovelha, pesava demais. Quantas vezes, na vida, as ovelhas que não salvamos, por inúmeros motivos, nos perseguem, nos cobram a nossa falta de força ?
A forma como o canibal estimulava o raciocínio de Clarice era de uma inteligência descomunal. Até hoje me surpreendo falando aos meus alunos frases que saiam da boca do doutor Hannibal Lecter, diretamente para a alma de Clarice Starling: “ A paciência é uma virtude.” Eu pergunto para meus pupilos: como nasce o desejo? E fico insistindo até que um deles chegue perto da resposta: o desejo nasce com aquilo que observamos todos os dias. Ele fornecia elementos para que ela desvendasse o assassinato, de forma, eu ousaria a dizer, muito pedagógica, como se Hannibal fosse o inconsciente , repleto de símbolos, e passasse para um nível de consciência, representado pela figura de Clarice e começasse a adquirir significado. Havia elementos nítidos para que eu afirmasse que Hannibal era o inconsciente, o instinto, isso se comprovava com a localização do presídio do canibal. Para Clarice interrogá-lo ela tinha de descer porque a prisão era no fundo, uma espécie de subterrâneo( exatamente como as profundezas de nosso mundo interior).
A patologia de Lecter era extremamente coerente com o sistema de valores que ele demonstrava ter durante a trama O assassino procurado, Búfalo Bill, tinha um padrão: colocava na garganta de suas vítimas uma espécie de libélula muito rara, ou seja ele a importava, criava, alimentava, dava amor, outro elemento importante: as vítimas eram gordas, ele as deixava em um poço fundo , sem alimentação para afrouxar as carnes e tirar a pele, o assassino estava confeccionando uma roupa, um casaco com pele de mulher, então a libélula se aproximava da borboleta , era a metáfora da passagem do casulo para a crisálida, a transformação, por isso, no final do filme, aparece muito nítido em uma bandeira a figura de uma borboleta. Era como se o assassino estivesse se metamorfoseando. E o que era ainda mais assustador: a certeza de que ele não iria parar, porque estava se especializando na tarefa de retirar as peles e quando somos muito bons em determinada atividade, é natural que não queiramos parar, que desejemos fazer melhor ainda.
O que esse filme suscita em mim? A minha porção mulher, a minha porção conto de fadas. Meu professor de Literatura do cursinho foi o meu canibal, aquele alguém que fez parte da tua vida, das tuas escolhas, aquele alguém que soube te compreender, que te afagou quando poderia ter te devorado, te engolido, trucidado. Pude ter o privilégio de vivenciar a bela e a fera que habita todo o ser humano. Eu era apenas uma Clarice tentando me livrar de minhas ovelhas que insistiam em permear meus pesadelos e ele me ensinou poesia, me levava para passear nos lugares mais inusitados, meu professor de Literatura me ajudou a fazer justiça com o Búfallo Bill que se atravessa na vida de cada ser humano e, no final, eu me transformei, passei do casulo para a crisálida e me tornei uma mulher delicada... apesar das ovelhas...
Quanto ao professor de literatura... ah... ia esquecendo... ele morreu...

















ESSE NÃO PODERIA FALTAR NO MEU MUSEU IMAGINÁRIO

Cântico negro
José Régio

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


José Régio é um poeta português que figurou como romancista, ensaísta, crítico, dramaturgo, mas foi como poeta que alcançou o reconhecimento. Escrito em 1925, o livro POEMAS DE DEUS E DO DIABO, reuniu todos os temas que posteriormente viria a desenvolver: a questão da sinceridade e suas implicações, a fé, a solidão, os conflitos entre a carne e o espírito, a frustração, entre outros.
O poema escolhido para este museu, reúne alguns desses temas.
Falar de Cântico negro é falar da coragem de tomar decisões e arcar com as consequências, pois na vida “todo bônus tem um ônus”. Cada vez que leio esse poema sou tomada de emoções antagônicas: a felicidade de ter feito uma escolha na hora certa e a tristeza por ter me acovardado outras tantas vezes.
O eu – lírico do poema é alguém que questiona e ironiza a ideia formal de seguir um caminho seguro. Olha para estas pessoas que não ousam seguir suas inclinações com um certo enfadamento e faz exatamente o contrário do que é aconselhado. Ironiza e despreza os caminhos seguros apontados pelos que se julgam com experiência , pois acredita que muitos dos conselheiros não apresentam condições de exercer tal função. Sente-se vitorioso por contestar a vontade da grande maioria , residindo aí o” criar desumanidades”, ou seja, fazer ao contrário daquilo que a humanidade costuma fazer. Orgulha- se da sua loucura, pois esta não está atrelada a filósofos , regras ou qualquer outro tipo de convenção que representaria uma prisão para o eu-lírico. Mas há qualquer coisa de lamento, há qualquer coisa de abandono quando é citado o fato de que todos tiveram um pai e uma mãe. Pode-se ler aí um eu-menino, um eu, de certa forma, desprotegido e que adota uma máscara de fortaleza para conseguir enfrentar a vida. Até o ato de nascer adota uma conotação de bravura, pois ele não nasce , simplesmente, rasga o ventre de sua mãe, demonstrando assim que viver é, acima de tudo, uma luta, um romper barreiras, obstáculos. Muitas vezes as pessoas não sabem dos sonhos, aspirações, medos, desejos, não conseguem responder aos questionamentos alheios e se arvoram a emitir opiniões , portam-se como velhos avós a traçar um caminho que, talvez fosse bom para muitos, mas não para todos. Prefere o sacrifício de um destino tortuoso, cheio de barreiras, opta por correr o risco de machucar-se em sua trajetória do que seguir moldes convencionais. Ousa sonhar, enfrentar abismos, preservar sua personalidade do que ser um igual entre os demais. O eu -lírico é intenso, experimenta tudo . A imagem poética de ser filho de Deus e do Diabo oferece a possibilidade de transitar em universos antagônicos, paradoxais. Para concluir a persona poética pode até não saber o que quer ,mas sabe exatamente o que não quer.













PEÇA DE TEATRO NO MEU MUSEU IMAGINÁRIO? ALGUÉM DUVIDOU QUE SERIA MEDEIA?

O que Medeia suscita em mim?
Para mim, Medeia é uma leitura de todas as mulheres. Acredito firmemente que todas temos um anjo e uma feiticeira que habita nossos mais íntimos esconderijos . Claro que quando estamos no nosso juizo perfeito, não saímos matando criancinhas, mas... há outras maneiras de aflorar a Medeia que nos é peculiar sem nos comprometermos com a lei. Minha Medeia não se vale de violência... se vale de inteligência...


BREVE RESUMO

AS AÇÕES NO PASSADO

Medeia apaixona-se pelo forasteiro Jasão, que sai de Iolcos e chega em Corinto para buscar o Velocino de ouro. Ela ajuda a construir o grande cidadão que é Jasão, mas ele desposa Glauce e a abandona.
Por que Jasão queria o Velocino de ouro? Na verdade, Jasão era o verdadeiro herdeiro do trono de Iolcos, mas quem estava no poder era seu tio Pélias, meio irmão de seu pai. Pélias deveria entregar o trono para Jasão assim que ele atingisse a idade adequada, mas Pélias manda Jasão em uma missão na Cólquida para recuperar o poderoso talismã, o Velocino de ouro, acreditando que Jasão não retornaria vivo dessa missão. Chegando lá, Medeia, a guardiã do Velocino se apaixona por Jasão . Éetes o rei da Cólquida não concorda com a união dos dois e elabora missões impossíveis e perigosas para Jasão realizar. Entre essas tarefas , ele deveria atrelar dois touros com cascos de bronze e que cuspiam fogo. Medeia oferece para Jasão uma poção que torna o corpo do seu amado imune aos perigos e ele consegue realizar a tarefa, mas o pai de Medeia recusa-se a cumprir o trato e manda atear fogo em Argo, o navio de Jasão, com toda a tripulação dentro. Novamente, Medeia é quem resolve o problema, salva os tripulantes e foge com Jasão e os argonautas. O irmão de Medeia , Absirto, vai ao encalço, Medeia o mata, esquarteja e distribui os pedaços do corpo para que o seu pai se atrase juntando as partes do filho, porque era importante dar um funeral digno aos familiares. Quando chegam em Corinto, Jasão resolve, por questões políticas, tomar por esposa Glauce, filha de Creon, que é o rei de Corinto. Medeia não aceita essa situação.,mas ela é uma estrangeira, uma bárbara, o casamento com Jasão sequer é reconhecido em Corinto. Sente traída, humilhada, vilipendiada, abandonada e só, porque não pode sequer voltar para sua terra. Não aceitando as explicações de Jasão, Medeia arquiteta a sua vingança: finge que está conformada com a situação e oferece para Glauce,o manto dos fogos inextinguíveis, manto este que, ao entrar em contato com o corpo, rompe em chamas. Creon se desespera e tenta salvar a filha, mas também morre. Não satisfeita, Medeia mata os seus dois filhos para castigar Jasão. Agindo desta maneira (matando Glauce e as crianças) ela acaba com a descendência de Jasão e este é o pior castigo para ele, na visão de Medeia. Que sentimentos carrega alguém que abre mão de sua família, mata seus entes queridos e é descartada pelo companheiro, o qual desconsiderou toda uma trajetória de cumplicidade?



AS AÇÕES NO PRESENTE

A história de Medeia tem seu início com a ama fazendo considerações acerca de sua senhora, do medo que a mesma inspira e do que essa é capaz. A ama teme pelas crianças. Medeia foi ferida de amor por Jasão que desposou, sigilosamente, Glauce, filha de Creonte, rei de Corinto.
Em conversa com o pedagogo (serviçal ou escravo que tomava conta dos filhos de Medeia e era responsável pela educação dos mesmos) a ama fica sabendo que Creonte expulsará Medeia de Corinto. Creonte conversa com Medeia e diz que ela não pode mais ficar em Corinto porque representa uma ameaça para Glauce e à casa real. Medeia implora para ficar apenas mais uma noite. Muito contrariado, Creonte acaba consentindo.
Durante toda a trama, o coro, representado por 15 mulheres de Corinto, fica, em vão, aconselhando Medeia a não cometer uma ação terrível.
Egeu, rei de Atenas,filho de Pandion, encontra Medeia e conta a ela que atravessa problemas porque não pode ter filhos. Medeia desabafa com ele , narra a traição que Jasão realizou contra ela e propõe uma espécie de troca de favores : ele a acolhe e ela oferece ao rei de Tebas a possibilidade de procriar, pois conhece muitas ervas. Egeu aceita, mas ela deverá sair de Corinto por sua própria vontade a fim de não comprometê-lo. Medeia ganha tempo para realizar a sua vingança: finge para Jasão que está conformada, mas deseja que ele e sua jovem esposa tomem conta dos filhos tidos com ele. Diz que irá enviar presentes para a jovem princesa. Jasão acha desnecessário que tais ações sejam levadas a efeito, ao que ela rebate argumentando que as pessoas se deixam seduzir por belos presentes e finalmente ele concorda.. Medeia envia para Glauce um véu embebido em forte veneno que, ao entrar em contato com Glauce, rompe em chamar e a mata, deixando-a irreconhecível para a maioria das pessoas, mas seu pai Creonte a reconhece e ao abraçá-la também acaba sendo envenenado e ambos morrem.
Um mensageiro avisa Medeia do acontecido e a aconselha a fugir, mas ela pede que ele narre como os fatos aconteceram e o mensageiro assim procede. Medeia fica feliz com a notícia. Prepara-ser psicologicamente, faz com que a razão se sobreponha a emoção e mata os filhos. Quando Jasão chega para salvar as crianças da possível vingança dos parentes de Glauce e Creonte, os meninos já estão mortos. Ele quer beijá-los, prestar honras fúnebres, mas ela não deixa porque ele poderia tê-los beijado antes, mas preferiu bani-los. Eles tem uma última discussão e Medeia parte em um carro alado que foi a ela dado pelo seu avô o, o sol.

SOBRE OS PERSONAGENS

MEDEIA: Medeia, que nasce na Cólquida, uma terra de magos, é uma grande feiticeira, a guardiã do Velocino de Ouro. Por amor a Jasão, ela mata, rouba, foge, rompe laços com a família. Percebemos na protagonista, a coragem de uma mulher a frente do seu tempo. O grande diferencial de Medeia é que ela ousou escolher o próprio companheiro. Quando Eurípedes poetisou Medeia, as mulheres daquele tempo assistiam ao espetáculo e deviam se reconhecer na figura da protagonista. As jovens iam para o casamento sem saber o que estava por vir. O marido tinha sobre elas direito de vida e morte.
AMA: Serva de Medeia. É também ela que antecede os acontecimentos (Prólogo). É uma figura grotesca, tem medo das ações de sua ama, mas sua linguagem mostra que ela não aprova, mas compreende a ama, apesar disso, não se pronuncia contra Jasão e não o quer mal. Quem afirma categoricamente que Jasão não é amigo é o Pedagogo (serviçal que cuida dos filhos de Medeia)
JASÃO: Sabe-se que Jasão foi criado pelo centauro Quiron, o que nos oferece a possibilidade de realizar a leitura que o enfocaria com um eu lírico metade homem, metade cavalo. Na evolução da tragédia, podemos perceber que, na grande maioria das vezes a porção animal se apropria de Jasão, principalmente quando ele procura outra esposa e busca outra filiação. Essa questão de busca de uma filiação mais nobre, mais pura , mais perfeita é a supremacia do lado animal. O grande amor de Medeia, um grande e ambicioso guerreiro que sai de Iolcos e se dirige para a Cólquida para tomar posse do Velocino. Jasão é um homem político e, como tal, coloca a razão acima da emoção e isso pode ser comprovado pelos seus diálogos, pela sua linguagem. Jasão acha que Creon está certo ao expulsar Medeia de Corinto porque, afinal, ela é uma bárbara, devia se sentir feliz por ter filho gregos e viver na civilização e não agiu certo falando contra a casa real.
CREON: Rei de Corinto, pai de Glauce, a personagem com quem Jasão contrai núpcias. Creon conhece os poderes de Medeia e fica sabendo que ela fala contra a casa real e, temendo por sua filha, ele a expulsa de Corinto.
EGEU: É rei de Atenas e filho de Pandiom. Egeu procura Medeia porque não pode ter filhos. Medeia, conhecedora de ervas e poções, oferece-lhe a possibilidade de ser pai, se ele a acolher, uma vez que foi expulsa de Corinto por Creon.
CORO: O que se pode apreender do coro é que a sociedade não aprovou a atitude de Medeia, embora reconhecesse que Jasão agia de forma errada.


Esta escolha (Medeia) permite adentrar o universo feminino e seus aspectos mais íntimos, mais assustadores.
A preferência por Medeia está intrinsecamente ligada à ideia de podermos fazer aproximações com fatos atuais e personagens mais contemporâneos. Por exemplo: não nos é novidade encontrar em jornais, notícias que narram a história de mulheres que, ao se sentirem abandonadas, matam os seus filhos para castigar o companheiro. Entende-se esse fato como a supremacia da fêmea sobre a mulher, pode-se até discutir o mito do amor materno de Elizabete Badinter. Fica uma interrogação: O que é mais forte em Medeia de Eurípedes e Jocasta, personagem criada por Sófocles, a fêmea ou a mãe? Não é possível afirmar que elas não amavam seus rebentos, mas pode-se aventar a possibilidade de elas amarem mais os seus parceiros, porque ambas conviviam pouco com os filhos e se doavam bem mais para seus homens. Pode-se também estabelecer uma intertextualidade de MEDEIA com TUDINHA, personagem do conto O NEGRO BONIFÁCIO do autor gaúcho SIMÕES LOPES. Quando Tudinha se sente traída por Bonifácio com “uma chirua com ar de querendona” ela que era vista como “uma chinoca airosa, lindaça como o sol, fresca como uma rosa” (LOPES,Simões.2004.p.23) ao final do conto, descontrolada, raivosa, enlouquecida, esmigalha com uma faca o pênis do negro e, então, BLAU NUNES, o vaqueano, nos fala quase que como um Eurípedes dos pagos,às avessas, é claro: “Mulheres, mulheres, estancieiras ou peonas... é tudo bicho caborteiro... a mais mansa de todas elas, tem mais malícia do que um sorro velho” (LOPES, Simões.2004.p.30) Poder-se-ia justificar argumentando a respeito das semelhanças entre Medeia, Bibiana, Maria Valéria, Talapa, Rosa e tantas outras personagens femininas que permeiam o universo literário, justifica-se essa escolha por abrir a possibilidade de podermos falar sobre uma leitura de todas as mulheres.

Eurípedes surpreendeu a sociedade de sua época porque demonstrou, através de sua obra, a fragilidade de sua fé. Não eram comuns nas outras obras desse período, o espírito crítico e o ceticismo presentes na obra do dramaturgo.
A mulher, na sociedade grega, não era considera cidadã, mulheres e crianças eram membros da família, mas só indiretamente eram membros da cidade, por ser esta a sua pátria. A sua única possibilidade de participação social eram os esportes. Fora isso o que restava era o casamento, o qual era apenas um negócio, uma aquisição, através da qual se transferia a tutela do sogro para o genro e, através dessa compra, se obteria os descendentes e os filhos varões eram os realmente esperados. A jovem se dirigia para o matrimônio sem saber direito o que iria encontrar. Se tivesse sorte de casar com um marido afável, teria uma vida sem maiores problemas, caso contrário, estaria a mercê de alguém que tinha sobre ela o direito de vida e de morte.
A partir do século VI a.C. na Grécia, por ocasião do nascimento do teatro através dos rituais da elite, surgem as tragédias. No século V a.C., é o contexto no qual acontecem as obras de Eurípedes. Nesse momento também acontecem simultaneamente as obras de Sófocles e Ésquilo. Para Eurípedes as principais inovações de suas tragédias são os prólogos explicativos e o Deus ex-machina que surgia para solucionar uma questão de conflito. O coro para ele também só apresentava uma função ocasional e indireta, ao contrário da encenação e da indumentária que ganhava espaço em sua tragédia, mas o público nem sempre esteve de acordo com as inovações técnicas de Eurípedes, que também aparecem na versificação insólita, no abandono das estrofes e nos acompanhamentos musicais inusitados.




ENCERRAMENTO

Ao analisar as três obras escolhidas qualquer psiquiatra ou psicólogo diria: a Dagma é bem humorada, um pouco desprotegida, um pouco abandonada, um pouco mascarada. É apenas uma, como tantas outras, que luta com as armas que tem. Uma mulher forte. É capaz, como Medeia , de engolir seco para poder responder a altura na hora exata. Digamos que é uma pessoa que não liga para a opinião alheia, mas não pode viver sem saber o que estão pensando dela. Talvez um ser complexo, talvez um complexo de seres. É... sou eu...




















REFERÊNCIAS :


EURÍPEDES. Medeia. Tradução: David Jardim Jr., Introdução: Assis Brasil. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1988. 137 p. (Clássicos de bolso). ISBN

LOPES, Simões.Contos Gauchescos.Porto Alegre.Meridional Ltda.2004

SILÊNCIO dos inocentes. Direção: Jonathan Demme. Produção: Edward Saxon e Kenneth Utt . Roteiro:Ted Tally( baseado em livro de Thomas Harris). Intérpretes:
Anthony Hopkins , Jodie Foster e outros. EUA. Orion Pictures Corporation.1991. 1 DVD
Disponível em: Acesso em 16 mai.2009.
Disponível em:e . Acesso em 16 mai.2009.
Disponível em http://www.adorocinema.com/filmes/silencio-dos-inocentes/silencio-dos-inocentes.asp acessado em 16 e 17 de junho de 2009
Disponível emhttp://www.cinemacafri.com/filme.jsp?id=104 Acessado em 17/06/2008
Disponível em: http://www.releituras.com/jregio_menu.asp acessado dia 18/06/2009

VAGNER VARGAS BLOGANDO COM MEDEIA

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009
Medéia: Talento Não Tem Idade
Por volta das 19:30, mais de cem pessoas lotaram o teatro do Instituto de Artes e Design (IAD) da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL), no dia 15 de Dezembro de 2009, para assistirem ao processo de montagem do texto Medéia, de Eurípedes, representado por Josiane Almada, aluna do segundo ano de ensino médio da Escola Estadual Joaquim Duval, coordenado pela professora de Literatura Dagma Colomby. Certamente, foi um grande desafio para uma adolescente de 19 anos enfrentar uma platéia lotada de atores, diretores, professores de teatro e alunos das faculdades de dança, teatro, cinema, música e artes visuais da UFPEL, além do público em geral.
Neste sentido, saliento o virtuosismo com que Josiane interpretou Medéia, uma mulher com mais de quarenta anos, amargurada pelos dissabores da vida que, em um momento de loucura, acaba matando os próprios filhos, no intuito de vingar-se do ex-marido, após ele ter se casado com uma mulher mais jovem. Sendo assim, o que mais chamou atenção não foi apenas a capacidade interpretativa da jovem atriz, mas sim, a compreensão que esta adolescente apresentava de cada palavra do texto, expondo todo o denso universo psicológico que Medéia exige. Relato estes fatos, pois, atualmente, com uma triste constância observamos muitas pessoas subirem ao palco, intitularem-se atores, sem sequer significarem o texto dito pelas personagens e ainda chamarem isto de teatro.
Outro aspecto importante, refere-se ao fato do trabalho evidente em vertentes baseadas em poéticas do teatro físico, tratando o ator como um elemento orgânico, onde observamos todo o contexto sendo contado através da fusão dos aspectos físicos e psicológicos da personagem. Estas características estavam presentes neste trabalho e seu crédito deve-se, em grande parte, ao brilhante trabalho da professora Dagma Colomby, a qual, além de diretora de teatro e atriz há mais de 20 anos nesta cidade, soube conduzir, com maestria, o trabalho de sua aluna. Deste modo, percebe-se o eficiente labor de uma educadora capaz de descobrir os meios possíveis para alcançar a significação do processo criativo por parte de seus alunos. Além disso, Dagma e Josiane construíram um trabalho competente, no qual seus referenciais as levou a criar uma atmosfera que transcendeu aos limites do palco, envolvendo todos os presentes. Em função disso, não foram poucas as vezes em que era possível ouvir o choro da platéia comungando com o sofrimento e a loucura de Medéia.
Em consonância com o que foi dito acima, reafirmo que a batalha de uma professora e uma aluna de ensino médio, de uma escola pública, distante do perímetro central desta cidade ao levarem o seu trabalho artístico para apreciação de um público acadêmico, dentro da própria Universidade, foi vencida com o brilhantismo e a sensibilidade que somente os verdadeiros artistas possuem. Desta forma, espero que o nome Josiane Almada seja uma constante em futuros espetáculos teatrais. Ademais, anseio que o trabalho da diretora Dagma Colomby obtenha o devido respeito que merece. Entretanto, ainda sinto falta desta atriz novamente nos palcos pelotenses. Esta situação deve-se muito ao fato de há alguns anos Dagma dedicar-se ao fomento da arte teatral no Bairro Santa Teresinha, em Pelotas, agregando mais de cem pessoas em seu trabalho de experimentação teatral.
Portanto, espero que os preconceitos intelectuais do centro e zonas “nobres” desta cidade consigam ter o respeito e humildade em identificar que o talento surge independentemente de sua situação socioeconômica e geográfica. Acrescentado-se a isso, almejo que este digno trabalho, construído em uma escola pública, reverbere estimulando o processo criativo em outros locais desta cidade, onde freqüentemente resta apenas a soberba e o saudosismo, já que o público anseia por gozar dos prazeres que somente a arte pode lhes fornecer.
MSc. Vagner Vargas
DRT – Ator – 6606 - Integrante do CCETP.
vagnervarg@yahoo.com.br

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Blogando sobre o humor enlatado

UMA SÁTIRA À MESMICE

O dia 1º de maio começou às seis horas da manhã. Tomei banho e preparei o café. Eu estava muito preocupada em adiantar meus deveres de faculdade ( queria adiantar a narrativa de minha ida ao teatro), pois trabalho e meu tempo tem de ser muito bem aproveitado. O fato é que era dia da mães, domingo, e eu queria muito abraçar a minha mãe e precisava fazer o trabalho do professor Adriano ( pensei até em pedir uma cortesia, porque o meu amigo, o Maicon, disse que o professor geralmente tem ingressos para a peça, mas depois eu fiquei constrangida).
Cheguei em São Lourenço lá pelas 9h. Tomei chimarrão. Apresentei-me sem presente, porque estava sem dinheiro, mas contornei a situação assando um belo cabrito ( minha mãe adora carne de cabrito... o resto da família não gosta, mas era o dia dela e ela merecia comer o tal do cabrito. Na verdade, todo mundo comeu, mas família é assim mesmo. Lá em casa quando, não tem um bom motivo para brigar a gente culpa o cabrito, ou qualquer carne que esteja na mira). Almoçamos, comemos a sobremesa, fizemos fofoca das novas vizinhas da mãe ( minha mãe disse que as moças que alugaram a casa da vizinha eram “de programa”. O cão das moças tentou fazer amizade com a minha cadelinha, a Alberta, mas não deixei... para minha cadelinha não ficar mal vista na cidade... ).
Despedi-me de todos e vim para Pelotas (A fim fazer o trabalho do professor Adriano, mas o que eu queria mesmo era ficar em São Lourenço para conhecer as vizinhas putas da minha mãe e as atividades delas...). Minha cadelinha viria depois, de carro com meu irmão. Cheguei em Pelotas às 17h30m, tomei banho, vesti a mesma roupa que uso sempre , calça de veludo e camiseta, botei perfume , batom e rumei para o Teatro Sete de Abril. A peça em cartaz era”Lugar de Mulher...” uma sátira ao machismo, com Cláudio Ramos. Encontrei o Maicon, mas ele não conseguiu comprar ingresso para a primeira sessão porque estava esgotado. Acho que ele também ficou sem coragem de pedir cortesia para o professor Adriano. Esperei minhas colegas, professoras, que trabalham na mesma escola que eu. Fiquei muito feliz quando as vi. Vilma, Silma e Bia são presenças certas em qualquer programa de teatro, seja da escola ou de qualquer outro evento teatral da cidade.. Entrei e sentei com minhas amigas bem na frente. O teatro estava cheio. Notei que elas (as amigas que me acompanhavam) estavam bem produzidas e o resto da platéia também... só eu que não (é... a gente sai da campanha, mas a campanha não sai da gente...). Começou o espetáculo. Era algo que iria deixar o meu professor muito insatisfeito. Personagens que eram tipos, piadas simples, antigas, mas a platéia ria muito. O ator ameaçava interagir com a platéia, mas não propiciava que o fato se concretizasse. Parecia aqueles humoristas que aparecem no programa do Tom Cavalcante, mas como já citei, a platéia ria muito. A “costura de cena” era entediante. Eu não gosto de ver o serviço de contraregras, creio que poderia ser mais discreto. Os elementos que tinham em cena eram desnecessários e mal utilizados, mas o ator era muito bom, tinha o tempo certo da comédia. Pareceu-me uma dona de casa que só sabe fazer feijão com arroz, mas faz bem feito. Era uma comida simples, conhecida, mas bem feitinha. Eu estava diante de um profissional ( alguém que vive do seu trabalho, como o sapateiro, o marceneiro... o teatreiro. Era um profissional do humor pronto, enlatado). A iluminação era básica, sem novidades, o figurino adequado ao tipo, mas, de forma alguma, considerei ao que assisti uma homenagem às mães.
Sei que se meu professor de teatro tivesse assistido ele teria me dito: Você teria enriquecido mais seu espírito se tivesse ficado em são Lourenço para conhecer as vizinhas putas de sua mãe. Mas o que mais me deixou curiosa é que A PLATÉIA GOSTOU. Então, cheguei a conclusão de que cada de trabalho de teatro é direcionado para um determinado tipo de público.

Blogando sobre a Terreira da Tribo

NÃO IMPORTA SE A MULA É MANCA... O QUE EU QUERO É ROSETAR... FALANDO SOBRE O AMARGO SANTO DA PURIFICAÇÃO


Mais um domingo em que me preparo para realizar uma avaliação proposta pelo professor Adriano. Almocei com o Tom, comemos chocolate, esperamos o Maicon e ele não veio. Não importa... não devemos nos prender aos descasos e atrasos das pessoas. Devemos, sim, manter velhos e seguros laços de amizades. Rimos, passeamos com minha cadela, tomamos chimarrão e rumamos para o Largo Edemar Fetter, perto do mercado. Eu havia colocado uma roupa bem colorida porque uma bela tarde de outono pedia cores alegres e o Tom estava de chinelos, camiseta e uma velha calça de brim rasgada.
Chegamos lá e o público já estava se aglomerando. O grupo ÓI NÓIS AQUI TRAVEIZ tem uma peculiaridade: coloca lado a lado professores, cachaceiros, cães, meninos de rua, atores, médicos, dentistas, arrozeiros e todos formam uma massa uniforme, assistindo um trabalho coeso, coerente, bem estruturado, maduro, atraente. Falando em massa a primeira coisa que reparei é que não se podia dizer este ou aquele ator se destacou. Não... eles formavam um só corpo, uma só engrenagem. Havia sempre uma preocupação política e social, porque diversas vezes a palavra “ liberdade” era repetida. Em um determinado momento ficou muito claro: estavam falando sobre o golpe de 64, mais precisamente 13 de dezembro de 1964. Era um universo de enfrentamento do povo com o poder, estado de sítio,crimes políticos, liberdade vigiada e algo assustador: ratos representando o poder. Lembrei da professora Taís dizendo na aula que esta nossa superioridade humana é questionável, pois há muito de ratos no DNA humano.
Comentei com o meu amigo Tom: olha só, o poder e as tropas está sendo representado por gorilas. E é verdade: nos anos da ditadura estávamos sendo governados por animais muito fortes, que coibiam o povo de pensar. Reportei-me a um conto de Simões Lopes onde ele fazia a seguinte colocação: “ a anta é grande, mas é uma, os mosquitos são pequenos, porém vários. Então, muitos mosquitos conseguem vencer uma anta.” E assim transcorria o trabalho da tribo de atuadores, fazendo referências aos políticos Getúlio Vargas, , Ademar de Barros, Washington Luís e também ao parlamento. Para mim estaria de bom tamanho se o espetáculo tivesse encerrado com o usado “toque de recolher”nos tempos rígidos da ditadura militar, mas ainda tinha muito mais. Eles mostravam a supremacia da capoeira sobre as armas e de repente a mídia com seu poder mais forte que os canhões anunciava o jogo do Coríntians e Santos no Pacaembu e Pelé distraía a população. Os movimentos eram simples, mas todos muito bem executados, os joelhos dos atores eram trabalhados, alongados, pareciam uniformes, eles possuíam um preparo físico invejável e quando a gente pensava que ia acabar, entrava uma bicicleta em cena, um tanque de guerra. Ouvi uma criança comentar na platéia: “ela está voando.” Era uma cena em que a atriz, não recordo o nome, mas sei que é a esposa do ator Paulo, Flores, finalizava o “depois” de uma cena de amor e ela ficava nas costas do ator enquanto ele corria, a impressão era exatamente o que a menina falava: estar voando, que é o modo que algumas mulheres se sentem depois do amor, mesmo que seja em um momento político de proibições.
A impressão que dava é que se eles tirassem o figurino e as máscaras e desenvolvesse o trabalho, o efeito seria o mesmo Eu e o Tom cada vez mais absortos na encenação, eis que o Tom comenta: Dagma, faz o trabalho sem ler o material que eles estão distribuindo, porque aí tu vais aperfeiçoar a tua capacidade de análise. E assim terminou o espetáculo que versou sobre a vida e a morte de um revolucionário chamado Carlos Marighela, com alegoria, muito ritmo, grande capacidade de falar com o corpo e o que me estarreceu: o olho no olho com a platéia... só para não deixar de citar Peter Brooke.

Blogando sobre Peter Brooke

SOBRE “ AS ARTIMANHAS DO TÉDIO”

O texto de Peter Brook é muito útil para o ator que, quando se percebe com vontade de atuar, fica confuso diante das supostas limitações que as idéias pré- concebidas impõem ao fazer teatral. Ao ler o texto, reportei-me ao meu frágil e precário início de vida no teatro. Recordo que ficava imaginando como fazer teatro em São Lourenço, afinal não tinha palco e nem iluminação. Nesse momento de minhas divagações, a Secretaria de Cultura da cidade, trouxe para nossa comunidade o espetáculo EM NOME DE FRANCISCO , cujo diretor era o Válter Sobreiro. Era a primeira vez que eu ia assistir uma peça “ de verdade “, eu tinha 21 anos ( não sei como, mas já realizava montagens no palquinho da escola com os alunos... devo ter feito muita besteira, mas, mesmo assim, ainda mantenho contato com alguns desses alunos que achavam tudo aquilo O MÁXIMO ). Observei o diretor do trabalho, o Válter, montando uma pequena elevação de madeira no Clube Comercial da cidade e estendendo panos que funcionariam como cortinas. Eu estava maravilhada estupefata. Ele estava construindo o palco ( e eu estava apavorada com a ideia de ter uma peça sem palco). Hoje eu sei que qualquer espaço nu pode ser terreno para um belo trabalho de teatro. Sei também que a ausência de cenário faz com que o ator tenha de trabalhar mais , a fim de que o público enxergue o universo invisível proposto pelo trabalho a ser encenado.
Quanto ao corpo: em uma sociedade que prima pela magreza, o teatro possibilita a polinização da idéia de que o importante mesmo é ter um corpo saudável, um corpo em movimento, um corpo em ação e não necessariamente aquilo que os veículos de comunicação chamam de bonito.
Outro aspecto que chamou a minha atenção foi a verdadeira dificuldade do teatro que vai bem mais além do espaço: manter a platéia atenta, não deixar esse público desmotivado: é a centelha de vida que tem de estar presente em cada palavra e todo o tempo. Quando estamos ensaiando na minha escola, o melhor termômetro referente à vida do trabalho está na janela. Se os alunos estão pendurados, hipnotizados, então, estamos no caminho certo, se eles se dispersam... bem... precisamos melhorar alguma coisa. Segundo Peter Brook... hora de sacudir e espantar o tédio, ou seja, trabalhar mais e melhor.

Fiquei refletindo acerca do título do : A PORTA ABERTA. Realmente, quando nos libertamos da idéia de que temos de ter luzes, holofotes, figurino, cenografia, auditório então estamos com A PORTA ABERTA para deixar a imaginação entrar, sair e fazer o seu trabalho,de forma consciente, com técnica e domínio do conhecimento ( o ator profissional ) ou podemos fazer brotar de forma instintiva ( o amador) . De qualquer forma estaremos sempre com A PORTA ABERTA e não nos deixaremos seduzir por artimanhas que nos farão cair na armadilha do tédio.

Blogando sobre Édipo Rei( Sófocles)

BREVE RESUMO DA TRAGÉDIA DE ÉDIPO




Quando Édipo nasce, Laios e Jocasta recebem a profecia de que aquela criança mataria o pai e desposaria a própria mãe. O casal decide matar o filho. Os pés do menino são furados e amarrados para que o sangue não circule e ele morra. Assim Édipo é abandonado em um lugar ermo. O bebê é encontrado e , posteriormente adotados por nobres: Políbio e Mérope, que criam Édipo sem que o mesmo saiba que é adotivo. Ao tornar-se rapaz, Édipo vai ao oráculo de Delphos e torna-se conhecedor de sua sina: matar o pai e desposar a própria mãe. Como amava Políbio e Mérope, ele parte para que não se realize a profecia.
Antes de chegar em Tebas, no Citerom, o rapaz é afrontado por uma comitiva e mata quase todo o grupo, entre eles Laios. Tebas estava pagando o tributo de sangue com a esfinge. Quem decifrasse o enigma proposto poderia casar com a rainha e dividir o reinado com ela. Édipo consegue decifrar o enigma. Casa com Jocasta, tem quatro filhos e novamente o reino passa por dificuldades. A única saída é encontrar o assassino de Laios, o primeiro marido de Jocasta.
Édipo se lança nessa empreitada e acaba descobrindo que assassinou seu pai e desposou sua mãe. Não querendo mais ver nada, corroído pela vergonha e tristeza, ele fura os olhos e parte de Tebas. Creonte, irmão de Jocasta , assume o posto de rei.

Blogando sobre Euripedes l

BREVE BIOGRAFIA DE EURÍPEDES

Eurípedes nasceu na Salamina, perto de Atenas, em uma aldeia denominada Fila, 480 a.c. e morreu na Macedônia, 406 a.c. Na verdade, o que se sabe é que ele desapareceu e muitas lendas surgiram acerca de seu desaparecimento: alguns estudiosos afirmam que o mesmo foi morto por cães raivosos e outros dizem que foi assassinado por mulheres da velha estirpe tradicional. Era de origem modesta, mas teve uma educação aprimorada, envolvendo, como a maioria dos gregos, o esporte. Em sua juventude, teve contato com os sofistas, escola filosófica que prega o racionalismo e o humanismo. Escreveu cerca de 92 peças de teatro, sendo que somente 18 chegaram até os nossos dias. Ao longo de sua vida, Eurípedes foi tratado como um marginal e frequentemente era satirizado nas peças de Aristófanes. Foi um autor incompreendido e pouco premiado, mas atualmente é bem mais popular que Ésquilo e Sófocles. De todos os tragediógrafos, Eurípedes foi o mais inovador, também o mais cético, tornando-se, ao final de sua vida, um iconoclasta e, talvez desiludido com a natureza humana, viveu recluso e morreu em 406 a.c., dois anos antes de Sófocles. O enredo de suas obras foi aproveitado por dramaturgos modernos como Racine e Goethe.

CONTEXTUALIZAÇÃO DA CONJUNTURA HISTÓRICA NA QUAL DESENVOLVEU SEU TRABALHO

Eurípedes surpreendeu a sociedade de sua época porque demonstrou, através de sua obra, a fragilidade de sua fé. Não eram comuns nas outras obras desse período, o espírito crítico e o ceticismo presentes na obra do dramaturgo.
A mulher, na sociedade grega, não era considera cidadã, mulheres e crianças eram membros da família, mas só indiretamente eram membros da cidade, por ser esta a sua pátria. A sua única possibilidade de participação social eram os esportes. Fora isso o que restava era o casamento, o qual era apenas um negócio, uma aquisição, através da qual se transferia a tutela do sogro para o genro e, através dessa compra, se obteria os descendentes e os filhos varões eram os realmente esperados. A jovem se dirigia para o matrimônio sem saber direito o que iria encontrar. Se tivesse sorte de casar com um marido afável, teria uma vida sem maiores problemas, caso contrário, estaria a mercê de alguém que tinha sobre ela o direito de vida e de morte.

CORRENTE ESTÉTICA NA QUAL SE DESENVOLVEU A OBRA DE EURÍPEDES

A partir do século VI a.C. na Grécia, por ocasião do nascimento do teatro através dos rituais da elite, surgem as tragédias. No século V a.C., é o contexto no qual acontecem as obras de Eurípedes. Nesse momento também acontecem simultaneamente as obras de Sófocles e Ésquilo. Para Eurípedes as principais inovações de suas tragédias são os prólogos explicativos e o Deus ex-machina que surgia para solucionar uma questão de conflito. O coro para ele também só apresentava uma função ocasional e indireta, ao contrário da encenação e da indumentária que ganhava espaço em sua tragédia, mas o público nem sempre esteve de acordo com as inovações técnicas de Eurípedes, que também aparecem na versificação insólita, no abandono das estrofes e nos acompanhamentos musicais inusitados.

PRINCIPAIS OBRAS DE EURÍPEDES

Alceste (438 a.C.), Medeia (431 a.C.), Hipólito (428 a.C.), Hécuba, Os Heráclidas, Andrômaca, Héracles, As suplicantes, Íon, As Troianas (415 a.C.), Eletra, Ifigênia em Táurida, Helena (412 a.C.), As Fenícias, Orestes (408 a.C.), As Bacantes, Ifigênia e Áulis, Ciclope (com data desconhecida).

Blogando sobre Eurípedes

COMENTÁRIOS SOBRE AS PRINCIPAIS OBRAS DE EURÍPEDES

a) SOBRE AS BACANTES
Sêmele tem um filho com Zeus, mas suas irmãs, que seriam as bacantes posteriormente, falam que Sêmele dera seu amor a um mortal e, instruída por seu pai, Cadmo, atribui a Zeus sua paixão pecaminosa. Zeus, irado, mata Sêmele com um raio. Dioniso resolve tirar o juízo das irmãs e coloca-as para viver nas montanhas. Ele faz com que Agave mate seu filho Penteu, assim deixa Cadmo sem descendentes. Um dos traços que assemelha Medeia de As Bacantes é a questão da importância de deixar descendentes. Parece-nos que Cadmo e Jasão têm o mesmo castigo, perdem as suas descendências. O prólogo é realizado pelo próprio Dionísio que antecede ao público o motivo de sua vingança: suas tias negaram o fato de ele ser filho de um Deus e Penteu se recusa a efetuar o culto em homenagem a ele (Dionísio). O final é trágico. Cadmo é transformado em serpente.

b) SOBRE AS TROIANAS

Este foi o motivo que aparentemente causou a guerra de Tróia. O jovem Paris se corrompe porque Afrodite , a deusa da lascívia, deusa do amor promete-lhe o amor de Helena, esposa de Menelau (“...o filho que, por causa de uma mulher despudorada, destruiu as torres de Tróia...”página 119- Universidade de Bolso). Helena segue Paris. Depois de estarem sitiados por 10 anos, os Troianos são vencidos pelos gregos. Esses então resolvem sortear as troianas. A peça começa com Hécuba, mãe de Polixena e Cassandra dissertando acerca de suas dúvidas sobre o destino das mulheres de Tróia. É muito interessante observar a nobreza de Hécuba, pois antes de indagar a Taltíbio sobre o seu próprio destino, ela está muito preocupada com o rumo que tomará as vidas de Cassandra e Polixena (suas filhas), Andrômaca (sua nora , esposa de Heitor e mãe de seu filho). Andrômaca é casada com Heitor, mas depois da guerra, seu destino é ser tomada pelo filho de Aquiles como presa especial. Polixena morre e vai servir o túmulo de Aquiles como informa Taltíbio, Cassandra, a sacerdotisa de Apolo, está destinada a ser concubina de Agamenom. Não podemos deixar de citar que, por ocasião da morte de Polixena, novamente, na obra de Eurípedes, encontramos traços de seu ceticismo, quando em diálogo com Andrômaca, Hécuba ressalta: “ A morte é o nada” , ao que Andrômaca responde: “Os mortos, eu digo, são como se não tivessem nascido...” ( Páginas 120 e 121- Universidade de Bolso )
Há coisas que nos parecem comuns nas tragédias, como por exemplo: O filho de Heitor é morto para que não haja descendência e não ocorra a possibilidade de reconstrução de Tróia. A morte para não deixar descendentes aparece em Medeia, As bacantes e As Troianas.

c) SOBRE MEDEIA

Medeia apaixona-se pelo forasteiro Jasão, que sai de Iolcos e chega em Corinto para buscar o Velocino de ouro. Ela ajuda a construir o grande cidadão que é Jasão, mas ele desposa Glauce e a abandona.
Por que Jasão queria o Velocino de ouro? Na verdade, Jasão era o verdadeiro herdeiro do trono de Iolcos, mas quem estava no poder era seu tio Pélias, meio irmão de seu pai. Pélias deveria entregar o trono para Jasão assim que ele atingisse a idade adequada, mas Pélias manda Jasão em uma missão na Cólquida para recuperar o poderoso talismã, o Velocino de ouro, acreditando que Jasão não retornaria vivo dessa missão. Chegando lá, Medeia, a guardiã do Velocino se apaixona por Jasão . Éetes o rei da Cólquida não concorda com a união dos dois e elabora missões impossíveis e perigosas para Jasão realizar. Entre essas tarefas , ele deveria atrelar dois touros com cascos de bronze e que cuspiam fogo. Medeia oferece para Jasão uma poção que torna o corpo do seu amado imune aos perigos e ele consegue realizar a tarefa, mas o pai de Medeia recusa-se a cumprir o trato e manda atear fogo em Argo, o navio de Jasão, com toda a tripulação dentro. Novamente, Medeia é quem resolve o problema, salva os tripulantes e foge com Jasão e os argonautas. O irmão de Medeia , Absirto, vai ao encalço, Medeia o mata, esquarteja e distribui os pedaços do corpo para que o seu pai se atrase juntando as partes do filho, porque era importante dar um funeral digno aos familiares. Quando chegam em Corinto, Jasão resolve, por questões políticas, tomar por esposa Glauce, filha de Creon, que é o rei de Corinto. Medeia não aceita essa situação.,mas ela é uma estrangeira, uma bárbara, o casamento com Jasão sequer é reconhecido em Corinto. Sente traída, humilhada, vilipendiada, abandonada e só, porque não pode sequer voltar para sua terra. Não aceitando as explicações de Jasão, Medeia arquiteta a sua vingança: finge que está conformada com a situação e oferece para Glauce,o manto dos fogos inextinguíveis, manto este que, ao entrar em contato com o corpo, rompe em chamas. Creon se desespera e tenta salvar a filha, mas também morre. Não satisfeita, Medeia mata os seus dois filhos para castigar Jasão. Agindo desta maneira (matando Glauce e as crianças) ela acaba com a descendência de Jasão e este é o pior castigo para ele, na visão de Medeia. Que sentimentos carrega alguém que abre mão de sua família, mata seus entes queridos e é descartada pelo companheiro, o qual desconsiderou toda uma trajetória de cumplicidade?

SOBRE OS PERSONAGENS

MEDEIA: Medeia, que nasce na Cólquida, uma terra de magos, é uma grande feiticeira, a guardiã do Velocino de Ouro. Por amor a Jasão, ela mata, rouba, foge, rompe laços com a família. Percebemos na protagonista, a coragem de uma mulher a frente do seu tempo. O grande diferencial de Medeia é que ela ousou escolher o próprio companheiro. Quando Eurípedes poetisou Medeia, as mulheres daquele tempo assistiam ao espetáculo e deviam se reconhecer na figura da protagonista. As jovens iam para o casamento sem saber o que estava por vir. O marido tinha sobre elas direito de vida e morte.
AMA: Serva de Medeia. É também ela que antecede os acontecimentos (Prólogo). È uma figura grotesca, tem medo das ações de sua ama, mas sua linguagem mostra que ela não aprova, mas compreende a ama, apesar disso, não se pronuncia contra Jasão e não o quer mal. Quem afirma categoricamente que Jasão não é amigo é o Pedagogo (serviçal que cuida dos filhos de Medeia)
JASÃO: Sabe-se que Jasão foi criado pelo centauro Quiron, o que nos oferece a possibilidade de realizar a leitura que o enfocaria com um eu lírico metade homem, metade cavalo. Na evolução da tragédia, podemos perceber que, na grande maioria das vezes a porção animal se apropria de Jasão, principalmente quando ele procura outra esposa e busca outra filiação. Essa questão de busca de uma filiação mais nobre, mais pura , mais perfeita é a supremacia do lado animal. O grande amor de Medeia, um grande e ambicioso guerreiro que sai de Iolcos e se dirige para a Cólquida para tomar posse do Velocino. Jasão é um homem político e, como tal, coloca a razão acima da emoção e isso pode ser comprovado pelos seus diálogos, pela sua linguagem. Jasão acha que Creon está certo ao expulsar Medeia de Corinto porque, afinal, ela é uma bárbara, devia se sentir feliz por ter filho gregos e viver na civilização e não agiu certo falando contra a casa real.
CREON: Rei de Corinto, pai de Glauce, a personagem com quem Jasão contrai núpcias. Creon conhece os poderes de Medeia e fica sabendo que ela fala contra a casa real e, temendo por sua filha, ele a expulsa de Corinto.
EGEU: É rei de Atenas e filho de Pandiom. Egeu procura Medeia porque não pode ter filhos. Medeia, conhecedora de ervas e poções, oferece-lhe a possibilidade de ser pai, se ele a acolher, uma vez que foi expulsa de Corinto por Creon.
CORO: O que se pode apreender do coro é que a sociedade não aprovou a atitude de Medeia, embora reconhecesse que Jasão agia de forma errada.