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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

BLOGANDO SOBRE A ELEGÂNCIA

ELEGÂNCIA


Pelo pouco que tenho observado ELEGÂNCIA É ACEITAR OS MAUS MODOS DAS PESSOAS, logo... cheguei a conclusão que não sou nem quero ser elegante, basta-me ser educada e respeitada. As pessoas alertam que quando somos ofendidos devemos SAIR NO SALTO...não consigo... SAIR NO SALTO é, para mim, engolir desaforo e permitir que o desaforado saia pelo mundo afora fazendo desaforos sem ser punido. Então... resolvi criar meu próprio código de etiqueta, que não se restringe a saber lidar com talheres de peixe, taças de vinho, água , refrigerante ou recipientes de lavanda para limpar a ponta dos dedos, também não fico olhando como os outros fazem para não errar, já sei que não se esfrega o guardanapo de papel na boca, também sei que é feio derramar café no pires, aprendi que quando algo cai no chão é o garçom que deve pegar e trocar. Tudo isto é interessante, mas não é o mais importante. Se praticarmos o básico já estará de bom tamanho.
Quando recebo alguém ofereço o que posso, dentro das minhas possibilidades ( pode ser um chimarrão ou um cafezinho) e procuro deixar a pessoa sentindo-se à vontade, não fico olhando para o relógio se a visita se demora, não falo de boca cheia, não faço barulho para tomar sopa, café, água ou chá. Não insisto para a visita se empanturrar dizendo: pode comer... tem bastante, não coloco a língua no buraco do dente para fazer estalo, não fico acariciando a barriga depois da refeição. Mas... minha paciência tem limites...não tenho tolerância com homem que deixa pingos de xixi na tampa do vaso. Detesto gente que faz malabarismo com a dentadura dentro da boca e homem grosso, comigo... até tem entrada, mas não tem saída... eu me vingo, não esqueço ofensa, pode demorar uma vida, mas tem troco. É claro que tenho consciência de que NÃO SE FAZ UMA OMELETE SEM QUEBRAR OS OVOS, ou seja, posso até afundar junto, mas afogo o inimigo, tal qual Medéia fez com Jasão, metaforicamente falando ,é claro. Uma mulher não precisa usar de violência, só precisa... usar de inteligência e...ter muita paciência..
Voltando à elegância... ninguém gosta de mentiras, mas pessoas sinceras demais NÃO SÃO ELEGANTES...são cruéis, ou seja, fingir que gostou da roupa da amiga, do novo corte de cabelo, dizer que ela não engordou tanto assim, é delicadeza, generosidade, ELEGÂNCIA e nada tem a ver com o cinismo.
Não acho deselegante humilhar o parceiro que ronca... acho CRUEL, pois ronco não é questão de elegância... é questão de saúde. É tão simples trocar de quarto depois que ele adormece e voltar antes da pessoa acordar... é o exercício do amor... é a elegância da convivência.
Telefonar desmarcando o compromisso é elegante.
Falar a verdade com doçura é elegante.
Não tripudiar das pessoas é elegante.
Separar o lixo é elegante.
Proteger os animais é elegante.
Respeitar a natureza é elegante.
Não discriminar é elegante (a pessoa até não gostar, mas tem a obrigação moral de respeitar todos)
Elegante mesmo é quando a gente se surpreende fazendo uma coisa boa e não tem ninguém assistindo e continuamos a ação, mesmo sabendo que não teremos aplauso e reconhecimento... sim porque o ser humano busca ou o aplauso ou o reconhecimento, mas é preciso domesticar a sereia , o narciso, ou o artista que habita em nós.
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NATAL EM FAMÍLIA: Nada mais pérfido e deselegante do que, na hora da distribuição dos presentes , uma das crianças ganhar algo simples e outra ganhar vários embrulhos, todos lindos e caros. É o Espírito de Natal incentivando a desigualdade com o apoio do Senhor Menino. Seria tão simples combinar somente um presente modesto na reunião família. Quem tem mais possibilidades que presenteie com abundância, mas na intimidade, nunca na frente de outras crianças que não terão o mesmo privilégio.
RECEBENDO OS AMIGUINHOS DE SEU FILHO: Se você tem duas barrinhas de chocolate e cinco crianças, sirva café com pão e margarina para todos. (Minha mãe sempre nos alertava: não peçam iogurte quando tiver visitas, porque não temos para todos) É muito mais elegante do que chamar seu filho em particular e dizer para ele comer rapidinho... sempre se corre o risco de uma criança ver e ficar magoada.
Quando a gente ia visitar alguém minha mãe recomendava: não é para incomodar na casa dos outros dizendo que estão com fome e não esqueçam, a gente não repete a refeição porque é muito feio, as pessoas podem pensar que vocês são esfomeados, e se você receber presente da madrinha, mesmo que não goste, agradeça porque a dinda comprou com carinho e ela não é rica. Minha mãe na grande maioria das vezes é elegante, a não ser em último caso... ela sempre frisa: ser bom é diferente de ser bobo.
Eu teria inúmeras situações para comentar, mas com as que foram comentadas já dá para concluir que ,quando se é generoso, simples, com a educação pautada na bondade não é preciso, rios de dinheiro, nem mestrado, doutorado e phd. Elegância tem mais a ver com boa índole e capacidade de se comportar bem em qualquer ambiente e agir corretamente com qualquer pessoa.

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

BLOGANDO SOBRE O DIREITO DE USARMOS O TÍTULO DE HUMANOS

DEFESAS FÁCEIS...

É fácil defender uma causa quando a grande maioria tem simpatia pela mesma, difícil é defender aquele que parece culpado e que não tem condições para responder pelos seus atos. Estou falando do pitbull, cão que é mistura de raças ferozes que dizem, ter sido criado para conter a fúria do touro nos eventos em que o homem está perdendo para o animal: as touradas (aliás... maneira bastante ignorante de se divertir). O pitbull é grande, mas não sabe porque é grande... ele é feroz mas não sabe porque é feroz... ele tem força, mas não sabe lidar com ela, precisa ser ensinado.
Quando acontece uma desgraça, como casos em que este animal ataca e mata, o primeiro ato de heroísmo da espécie humana é sacrificar o animal. Deveria ser esclarecido que este animal é como um filho adolescente, precisa de muita comida e muito espaço para gastar energia. Será que quando acontecem estas desgraças alguma autoridade verifica as condições em que está vivendo o animal?
Acredito que certas raças só poderiam ser liberadas para quem tivesse autorização e condições para criá-las. Tudo deveria ser mais criterioso, por exemplo: pessoas de compleição física frágil não são aptas para conduzir animais de grande porte e com alto índice de ferocidade.
Falando em ferocidade... quem convive com animais observa que eles têm personalidades diferentes:encontramos pitbuls com alto grau de irritabilidade e outros extremamente dóceis, o mesmo acontece com poodles(alguns podles são ciumentos e agressivos, mas como são raças de pequeno porte não oferecem perigo aos adultos, mas podem ser fatais para bebês ) .
A faculdade do raciocínio é peculiaridade do ser humano, por isso me surpreende presenciar uma cena em que a pessoa pisa em um dejeto e começa a esbravejar com o animal, como se o bicho pudesse compreender porque está sendo agredido. È assustador perceber que as pessoas, quando se desentendem com os vizinhos, envenenam os animais, usando métodos cruéis como por exemplo, dar carne com vidro moído para mascotes que andam soltos. A questão deveria ser resolvida na forma da lei e nunca maltratando o animal.
Pelotas, a Terra do Doce, retrata nas suas calçadas um quadro muito amargo. Alguns poderão revidar: “tanta preocupação com os cães... e os mendigos?” É claro que não podemos nos omitir quando se trata de pessoas, mas sabemos que se o morador de rua não for portador de transtornos da mente ou de necessidades especiais,ele ainda pode falar, pedir, gritar por socorro, procurar o albergue, mas o animal não tem condições de bancar a própria defesa. Pergunto-me: estamos merecendo o título de humanos?

BLOGANDO SOBRE O DOMÍNIO DAS LOIRAS

QUANDO AS LOIRAS DOMINAREM A TERRA...

Quando as loiras dominarem a terra todos serão livres para tingirem ou descolorirem seus cabelos da forma que desejarem. Teremos cabeleiras ruivas , roxas, vermelhas, verdes, azuis, prateadas, douradas. Teremos chapinhas carapinhas, pixains,cacheados, escorridos e encaracolados ... teremos também loiras sem cabelos porque o mundo será feito de escolhas e opções, livre de chacotas e de punições.
Quando as loiras dominarem a terra haverá espaço para gordos, magros, anões, carecas, judeus, alemães , negros, homossexuais, idosos e ninguém precisará processar ninguém e não teremos movimentos individualizados defendendo este ou aquele porque ninguém precisará de defesa.
Quando as loiras dominarem a terra , a palavra loira será apenas mais um substantivo ou adjetivo perdido nas folhas amarelas de um dicionário desatualizado e não mais será motivo de pilhéria , nem sinônimo de burrice.
Quando as loiras dominarem a terra ninguém dominará ninguém e ninguém será escravo de ninguém e advogados terão de abrir todo o seu leque de diferentes opções e possibilidades de trabalho no ramo do Direito porque não haverá motivos para processos que envolvam a palavra preconceito.
Há de chegar um dia em que negros, alemães, pardos, japoneses, cearences e outros estarão tão misturados que se formará uma única cor: a cor da mistura, do enlace, do himeneu do amor de todas as etnias e a palavra cor será somente uma palavra.
Quando as loiras (geladas à mesa ou quentes à cama) dominarem a terra todos saberão que ninguém domina o pensamento de ninguém.

terça-feira, 16 de setembro de 2008

BLOGANDO SOBRE A LOUCURA

MUNDO LOUCO

Muitas pessoas me acham louca porque digo o que penso, porque me trabalho todos os dias para ser uma pessoa melhor, para rir mais, para trabalhar melhor, muitas pessoas me acham estranha porque durmo com minha cadela e , às vezes, esqueço de lavar as mãos para pegar um alimento depois de acariciar a mascote. Muitas pessoas me acham louca porque não levo desaforo para casa, porque procuro não ser preconceituosa, porque me relaciono bem principalmente com quem é vítima de preconceito: negros , judeus, homossexuais, gordos, anões. Muitas pessoas me acham louca porque sou contra as cotas para negros e por tantos outros motivos. Os homens acham loucas as mulheres que têm iniciativa.
O fato é que os que todos julgavam normais estão aí, soltando a besta: normais que matam seus pais, normais que jogam seus filhos pela janela, normais que esquartejam seus filhos, normais que se relacionam sexualmente com seus filhos. Normais que escravizam crianças, normais que colocam filhos em cárcere privado. Normais que engravidam suas filhas. Só que estas pessoas antes de serem consideradas criminosas estavam dentro do padrão de comportamento exigido pela nossa sociedade.
Por isso gosto mais de animais. Sei exatamente até aonde pode ir a gana de um pitbull, mas não sei do que é capaz um homem ferido, uma mulher magoada, não sei até aonde pode ir a ambição de que governa esta nação.
Prefiro ser louca do que ser Suzane R, prefiro ser louca do que ser Alexandre N.
Que a minha loucura seja preservada e disseminada, porque é a loucura de quem paga seus impostos, diz o que pensa, assume seus atos.

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

CONVITE PARA A FESTA DO RIDÍCULO

A FESTA DO RÍDICULO



Agora nenhum pelotense precisa pagar para entrar na festa do ridículo: é só ligar a televisão no horário político. Um mata a cobra, o outro chuta o balde, a outra acha que só porque é pobre e tem uma penca de filhos merece ser votada, só faltou dizer que processaria por racismo quem não votasse nela porque a comparação com Obama foi por demais apelativa, o outro que tinha bicho do pé quer voltar para mamar mais um pouco, o velho, cansado de sugar, manda o filho para chupar no lugar dele, uma figura grotesca aparece de rolo na cabeça , uma ofensa para a era da chapinha e tantos outros, cada qual mais ridículo. Temos também a dupla sertaneja que promete atitude e juventude, como se juventude fosse pré requisito para governar, o outro se julgando o pai dos pobres e realmente é: o governaço é pai dos pobres, mas é mãe dos ricos... E MÃE É MÃE... hilário mesmo é quando o atual pega uma criancinha no colo e ensina a pobrezinha a cantar aquela música ridícula e se senta à vontade de cavalinho em uma cadeira na vila, tentando mostrar o quanto é simples , bondoso, protetor dos pobres. O mais engraçado de todos é o pai do asfalto,: os homens morrem de medo da paternidade, mas este quer registrar o asfalto. No caso, só para esclarecer... se for provada a paternidade quem vai receber a pensão é o próprio pai do asfalto, ser pai do asfalto é o mesmo que dar o golpe da barriga feito com a maestria que só a Luciana Gimenes seria capaz de realizar. Esqueci aquele que faz uma grotesca releitura do orçamento participativo que aparece como sua grande criação: o conselho da cidade. Viram como ele é educadinho com as pessoas... que bonito...
E aqueles bordões ridículos, aquelas rimas pobres? E os despreparados que ficam lendo, ou melhor, soletrando em frente às câmeras? E o desenho animado?
Achei muito cênico a moça do sotaque que dá um texto enorme sem respirar... “ ... meu amigo, guérrero. militante da ixquerrda socialista que não se vende...” Quem não se vende? O candidato ou a esquerda socialista? Que bela questão de ambigüidade!
Vocês sabem como eu vejo a política? È como se você entrasse todo de branco em uma oficina mecânica e ficasse jurando que iria trabalhar sem se sujar, ou seja do jeito que está... impossível
O que aconteceria se 51 por cento da população anulasse o seu voto. Anular é mais forte do que votar em branco, anular é mais forte do que recusar-se a votar. Ninguém pode tomar o poder se a maioria anula o seu voto. Isto é protestar. Protestar não é votar em quem tem bicho do pé ou em quem chuta o balde. Vejam bem, não estou convidando ninguém para me seguir, apenas, por viver em um país democrático resolvi partilhar a minha opinião com meus amigos. DAGMA COLOMBY

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

PESSOAS QUE ERGUEM BANDEIRAS...

Tenho um certo receio com pessoas que erguem bandeiras, que defendem causas e que se perdem nos seus argumentos, por exemplo: conheço gente que ergue a bandeira do movimento negro e ri de quem não tem dentes, de quem é estrábico ou de quem porta alguma diferença que não é passível de punição na forma da lei quando o indívíduo é citado de forma pejorativa.
Uma judia, grande amiga minha tinha, um caso com um rapaz intelectualmente bem visto na cidade onde eles residiam, passaram uma linda noite de amor até o horário em que o jornal foi entregue na casa da moça. O rapaz, muito intelectualizado, inclusive defensor das cotas para negros na universidade, ao abrir o jornal leu algo que não gostou e , indignado com o autor da coluna esbravejou: “ aquele judeu...” minha amiga, não muito intelectualizada, mas bastante espirituosa fez um afago no seu amado e disse: amor, você precisa cuidar da sua saúde, fazer ginástica, respirar um ar puro e... tomar muito cuidado com o que você come...
País de dois pesos e duas medidas, onde ofender negros é motivo de processo e fazer anedotas de judeus é espaço garantido no jornal, não dá cadeia, nem processo.
Tantas vezes me questiono: Quem sofre mais? O negro, o judeu, o gordo, o homossexual, o portador de gigantismo, o portador de nanismo? Sei que sofrimento não se mede, nem se pesa, cada um sabe o tamanho da própria dor, mas não existe dor maior do que a sensação de injustiça.
Muito me chama a atenção o drama de quem sofre com o sobrepeso. Nada pode ser mais doloroso para uma mulher do que chegar em uma loja e nunca encontrar roupa bonita para pessoas gordas e sempre ter de ouvir das vendedoras que se comportam como cadelinhas adestradas ao repetir a frase que levaram meses para memorizar: A CONFECÇÃO É PEQUENA. É a humilhação garantida e protegida na forma da lei. Às vezes recomendam que a pessoa procure uma loja para GORDINHOS. Por que não falam gordo?. Bem, desconheço termo mais preconceituoso do que GORDINHO. Talvez mais
preconceituoso, ou tão preconceituoso quanto, seja o verbo judiar que é oriundo de judeu. No país da impunidade temos também os locais específicos para os diferentes . É vergonhoso ter uma loja para gordos. Será que terão coragem de criar uma loja para negros , outra para anões? E se tudo for separado? Bar para negros, bar para gordos, bar para anões... Aliás, o negro tem amparo jurídico, mas o gordo não. Se fizer piada de negro lá vem processo ( o que é muito justo ) mas se fizer piada de gordo nada acontece. Em jantares entre colegas de serviço, amigos, se o magro se serve duas vezes ninguém repara, mas se o gordo repete as pessoas se escandalizam e agem como se fosse o gordo o assassino de Isabela Nardone ( até peço desculpas pelo grotesco modo com que me expresso, mas é para ter uma noção do tamanho do escândalo que as pessoas fazem). Em um almoço se o gordo senta à mesa, sempre há alguém para tripudiar: “ é o primeiro a sentar e o último a levantar “, enfim, o gordo por ser gordo já está alimentado para o resto de seus dias. E se a pessoa se lamentar ouve o já batido bordão: É SO FECHAR A BOCA, bordão este que é oriundo de pessoas que desconhecem problemas de ansiedade, depressão, compulsão. Muitas vezes o gordo come suas tristezas, sua solidão, suas derrotas, suas frustrações e paralelo a tudo isso ainda carregam o rótulo do desleixo, da preguiça, da falta de capricho.Só que nem todos os gordos tem condições de fazer acompanhamento psicológico.
O mundo é assim: uns são alto demais, outros são magros demais, outros quando nascem, já são demais. O que eu quero dizer é que não tem de ter movimento pro negro, pro gordo, pro anão, o que é preciso é uma única lei: a lei do respeito e da justiça. Mas não temos isso. Temos sim ,muita gente ganhando dinheiro em cima deste ou daquele movimento, gente se aproveitando da fragilidade dos outros para passar uma imagem nobre e fidedigna e disto tirar muito proveito. Eu não tenho dívida com ninguém, mas se a palhaçada continuar posso criar: quero cotas porque o povo magro tem uma dívida comigo pelos anos de humilhação na minha adolescência e na adolescência dos que me antecederam porque eu era chamada pelos meus coleguinhas de MUSA DO RENASCIMENTO em função dos quilos a mais que carregava e quero que multem os meus pais por não me alimentarem de forma adequada , sendo eles também culpados de todos os meus fracassos. E SEGUE O BAILE...

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

coluna xxx - a super fêmea

VESTIBURRICE


Prezados vestiburrandos,

Sou solidária com vocês na luta para galgar mais um degrau na escala do saber. Confesso que fiquei toda atrapalhadinha quando li O CONTINENTE, da obra de Érico Veríssimo. Até desisti do vestibular para não fazer vestiburrada. Meu humilde cérebro feminino não consegue compreeder tantas coisas. Sei que o Érico Veríssimo vai sair furioso da sua tumba, mas preciso falar: como o tal do pai da Ana Terra , o velho Maneco Terra , pôde ser tão burro a ponto de mandar matar o Pedro Missioneiro por ele ter desonrado sua pobre e encalhada filha, a Ana Terra? Se o universo do povo gaúcho é construído nos alicerces do machismo, não teria sido mais fácil ele obrigar o malfeitor a reparar seu erro? Vejam bem... Aninha já estava passadinha, 25 anos, nada de marido, nem um triste espelho o pobre bicho tinha em casa. Andava ela pelo rancho a sentir calorões e a dar despesas. Foi então que ,afoguentada , resolve se refrescar no riacho. Na verdade , a vítima foi o pobre índio, o Pedro Missioneiro. Ana Terra quase ficou conhecida como “Aninha do Riacho” . A encalhada heroína gaúcha praticamente obrigou o pobre bugre a tomar uma atitude. Deu no que deu... sangue, morte, muita tragédia. Posteriormente, Aninha, lépida, fagueira e galopante ruma para Santa Fé, já trazendo consigo o herdeiro da tesoura e do crucifixo sem nariz. Pedro Terra, filho de Ana Terra e Pedro Missioneiro, é bonito como o pai e genioso como o avô. Ana Terra pagou caro pelo seu assanhamento. Carregou para o resto da vida o rosto e o corpo do bugre e a tirania do seu velho pai .
Pedrinho cresce, casa e tem dois rebentos: Juvenal e Bibiana. “A fruta não cai longe do pé.” Bibiana herda o gênio e o temperamento caliente da avó. A bandida consegue se casar com o sedutor e gostosíssimo Capitão Rodrigo Cambará ( e eu aqui... a deus dará... ). Assim nasce a dinastia dos terras e Cambarás, assim o fantástico Érico Veríssimo conta o início da história do Rio Grande do Sul. Fico me perguntando: será por isso que um dos capítulos leva o título de A Fonte? O que é uma fonte? Seria a fonte do pecado ou a fonte do prazer? Ou as duas?...

COLUNA XXX

DA EMBRIONÁRIA COLUNA X X X- A SUPER FÊMEA
MINHA OPINIÃO

Após assistir o último capítulo da novela Mulheres Apaixonadas (sou noveleira de carteirinha, de usar decalque, como diria O Analista de Bagé), fiquei estática, paralisada. Sou obrigada a viver entre pessoas que ,para se dizerem intelectualizadas, afirmam serem as novelas um antro de perdição, mas elas olham, caso contrário, como saberiam tanto sobre a perdição da telinha? Ainda têm o desplante de falar: “ casualmente a tv estava ligada, eu vi e fiquei apavorada “ , ou então : “ a empregada estava olhando... “ Ora... para que serve o controle remoto , mentes remotas ? Rebato... as novelas da teledramaturgia brasileira são um verdadeiro ataque ao falso moralismo que impera na sociedade. O Manuel Carlos é tudo de bom. O Manuel Carlos tinha o direito de se suicidar 5 minutos após o término da novela. O gênio das domésticas solitárias, ou das avulsas, abordou praticamente tudo em uma só novela, em tão curto espaço de tempo. No último capítulo, através do personagem Carlão , gritou para o Brasil inteiro: pais, coloquem limites nos seus filhos, para não infestar a sociedade de monstros.” Educai os meninos e não será necessário castigar os adultos “.
Com a morte do Fred e do Marcos, Manoel Carlos esbraveja: doutores das leis brasileiras, vai continuar a palhaçada do espancamento e do estupro dentro de casa e a mulher ter de calar ,a troco de cesta básica ?
O povo brasileiro teve excelentes temas para debate: maltrato ao idoso, câncer de mama, adoção, prostituição, namoro entre primos ( no lugar de coibir, por que não discutir como pode a medicina ajudar estes casais? ), homossexualismo (Cheguei a telefonar para o autor da novela e perguntar : se os namorados heteros se beijam tecnicamente na tv , quando os autores brasileiros vão perder o medo e dar vez , voz e beijo na telinha para os homossexuais ?( claro que eu não disse para o autor que sou medrosa a ponto de me esconder atrás de um pseudônimo, embora ao me ler qualquer pessoa reconheça minha linguagem , mas se quiserem provar que eu sou cavalo, me recuso a comer alfafa ) .
No último capítulo o autor presenteou-me com o tão sonhado beijo de homossexuais na tv. Quando ele me perguntou se eu estava satisfeita, disse que não, porque o casal que havia beijado era Romeu (interpretado pela Rafaela) e Julieta (interpretado pela Clara ) e eu queria o beijo da Clara e da Rafaela... “Quem sabe na próxima novela você continua me ajudando? “. Senti-me lisonjeada: foi a primeira vez que coloquei alguém que julgo importante em uma saia justa. É fácil cobrar estando do lado de fora, sem a pessoa saber das nossas fragilidades ). O beijo não era por mim não, porque gosto de homem, o beijo era em nome de todas as pessoas que são excluídas por este ou aquele motivo.
Mostrou luta de classes, mulheres mal atendidas que acabam fantasiando com taxistas, o celibato dos padres, alcoolismo, ciúmes doentio , mulheres maduras amando homens mais jovens, uma filha que se envergonha do pai, uma história de amor entre a professora e o aluno ( Será que todas essas “baixarias “são tão desconhecidas por nós , será que estão tão longe da nossa consciência mágica ? )
As beatas e todos os falsos moralistas que me perdoem, mas o Manoel Carlos é quase um Deus no céu das telenovelas, só pecou ferozmente naquela escola ( os professores todos bonitos, felizes... os alunos aplicados, lendo Fernando Pessoa... Ah... e aquela piscina ? Fala sério...

DAGMA BLOGANDO SOBRE PEDRO NAVA

SOBRE PEDRO NAVA



Falar de Pedro Nava, o escritor, parece algo fácil. "Eu sou um pobre homem do caminho novo das Minas Gerais".

Ao ler sua obra percebemos que o homem e o escritor se misturam, pelo menos é o que acontece em Baú de Ossos.

A estrutura da obra de Nava é fragmentada, uma colagem de conversas orais, memórias da infância, crônicas, cartas e recortes. É construída de restos e, por isso, apontada por Celina F. Garcia como ESCRITA FRANKSTEIN. Ganha vida em suas páginas.

Em seus escritos absorveu o lado mais atraente, o aristocrático. Seus personagens com características negativas são pouco citados. Na ilustre galeria dos Nava encontramos IRIFILA. Ninguém entendia como o marido, um homem elegante e agradável havia casado com uma mulher que, além de feia era dona de um gênio tão difícil: mulher que falava de corda em casa de enforcado e de regime em casa de gordo Quando os azares do casamento eram trazidos por elementos estranhos à família o jeito era suportar com resignação.

Na sua linguagem usa muitas palavras arcaicas, talvez por serem próprias do seu tempo , da sua vivência.

Quanto ao gênero podemos dizer que é uma grande mistura. Trata-se de memória, autobiografia, narrativa e romance.
Arriscamos dizer que Pedro Nava não deixa de ser Borgiano, pois , uma vez que mistura diversos gêneros em Baú de Ossos, às vezes pode se dar o direito de contar o que não existe , deixando-nos na dúvida , pois sendo ficcional o ponto de vista ë do autor.

Algo interessante na página 32 no livro Baú de Ossos é o ciclo da vida que se repete nas características dos descendentes.

Quanto à contextualização: na abertura, o poema de Bandeira já dá a idéia e entrega o que será o livro. PROFUNDAMENTE fala de mortos, de memórias, de coisas e pessoas que fazem parte de um passado distante, aquiescido.

No dia 29 de setembro de 1999 a revista VEJA publica matéria em que uma pesquisadora francesa , Monique Le Moing, revela aquilo que, segundo ela, Nava não teve coragem de assumir: sua homossexualidade. Na verdade a pesquisadora usa o termo CONFESSAR, o que faz uma diferença considerável.

Monique Le Moing apoiou-se, sobretudo, na evidencia literária trazida nas páginas finais de O CÍRIO PERFEITO, carregada de referencias ao tema . O livro termina justamente no ponto em que o personagem COMENDADOR faria uma revelação bombástica. O desenlace aconteceria no volume seguinte, CERA DAS ALMAS, que Nava não chegou a completar.

Acredito que revolver lembranças antigas é uma dolorida, demorada e eficiente terapia. Também sei que muitos aspectos da personalidade do ser humano se manifestam nas suas obras, porém questiono o desrespeito disfarçado de certos ensaios, reportagens e avaliações intelectuais.

O ABISMO NA GAVETA DE MANOEL SOARES DE MAGALHÃES

CONSIDERAÇÕES SOBRE O ABISMO NA GAVETA




Falar sobre Lobo da Costa com precisão, rigor técnico, riqueza vocabular é bastante difícil. Francisco, o poeta, era um purista. A poesia brotava da sua alma como o capim comum brota nos campos.
Manoel Soares de Magalhães, valendo-se de uma linguagem biográfica, jornalística, aborda em sua obra a apreensão da dignidade do poeta.
“ Quem te esmagou, cabeça de poeta? Quem te cobriu de lodo, urna de sonhos?” , foram as palavras utilizadas pelo escritor riograndino, radicado em pelotas, Valter Sobreiro Jr. em seu livro EM NOME DE FRANCISCO. Esse questionamento é respondido por Manoel Soares de Magalhães de uma forma bastante clara: o alcoolismo e a incompreensão sobre a natureza de tal doença, aliás , o não saber que se tratava de uma doença, esmagaram um dos maiores gênios da poesia pelotense .
Tudo é relatado com muita simplicidade, sem rigor, sem grande densidade, mas oportuniza, não desqualificando a obra como literatura, diversas platéias a usufruirem do universo de sonhos que permeavam o mundo, à parte, de Lobo da Costa.
Os espaços físicos são descritos de forma bastante simples, permitindo que se forme imagens do cenário que acolheu o romance de Francisco e Raquel.
A criação ficcional da personagem Raquel, o não- compromisso com a verdade, é carregado de um lirismo exarcebado, próprio dos personagens e escritores românticos.
Raquel é a musa virgem e idealizada, que morre sem conhecer “a hora da estrela”, momento em que a mulher passa do casulo para a crisálida.
A personagem Antônia é, talvez, a mais rica de todos, pois a sua falta de lucidez permite-lhe o eterno contradizer-se sem perder a credibilidade. Ela brinca com os símbolos da nudez ( o mostrar-se) e a guirlanda, ( o santificar-se). Antônia reflete a lucidez dos loucos. É a mulher que sublima todos os desejos carnais na figura de Jesus Cristo. Despe-se e santifica-se a um só tempo.
Contar a vida de Lobo da Costa através do “ caderno de Raquel” é oportunizar às pessoas o conhecimento do perfil psicológico do poeta através da visão feminina.
Manoel Soares de Magalhães permite-se escrever com a persona poética feminina que habita o imaginário do homem.
Para quem aposta no realismo mágico, no fantástico, para quem adquiriu afinidade com “ Pequod” de Vitor Ramil e “ A Guerra no Bonfim” de Moacir Scliar, certamente achará o trabalho de Manoel Soares de Magalhães sem densidade, apenas um relato jornalístico muito bem feito ,que fala sobre Lobo da Costa aquilo que já foi dito.
O grande diferencial na obra de Manoel Soares de Magalhães é que ele não aborda a problemática do alcoolismo de Lobo da Costa com pieguice e dó. Em O ABISMO NA GAVETA, Lobo da Costa aparece como, além de poeta com grande sensibilidade, exímio versejador, um ser humano comum, com um problema atualmente comum, passível de tratamento, mas que na época não era considerado doença e, sim, irresponsabilidade, fraqueza de caráter.
O personagem Saturnino funciona como grande elemento de compreensão e aceitação das características de todos os que o rodeiam.
Outra figura interessante é a mãe: Judite Maria. O próprio nome de Maria trabalha para que a mesma julgue-se “a serva do senhor” , a sofredora. Judite Maria é uma mulher dominadora, mas que não chega a ser cruel, apenas descarrega toda a sua insatisfação matrimonial em sua filha Raquel, quando percebe que ela, a filha, poderá ter o mesmo destino da mãe.
Judite Maria também é vítima de toda a trama que é tecida ao longo dos séculos na grande teia na qual se encontra o papel feminino na sociedade. Como mãe, desempenha com destreza o papel de Rainha do Lar ( e quem disse que as rainhas são boazinhas? ).
Se formos justos com a matriarca não poderemos responsabilizá-la pelo infortúnio amoroso de Francisco e Raquel. O que realmente os separou não foi a mãe malvada, mas sim a falta de avanços científicos e tecnológicos que pudessem, em tempo hábil, perceber o alcoolismo como doença, bem como os meios de tratá-lo, aliado a falta de compreensão de uma sociedade movida pelas aparências (o que, aliás,não mudou muito- a luta de forças sempre existiu e quem não se enquadra no sistema, ou não se impõe é, obviamente, excluído).
É interessante observar as semelhanças, ou possíveis aproximações que podem ser estabelecidas entre o senhor Gouvêa e o poeta: um é dominado pela esposa e o outro é dominado pela bebida. Raquel parece ter uma tendência a amar homens dominados. O lastimável é que ela não sabe lidar com tal problemática.
Vamos atentar para a sutileza do autor ao escolher o nome da protagonista do romance: Raquel.
Reportemo-nos, pois ao soneto escrito pelo poeta Camões:


Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prêmio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assi negada a pastora,
Como se a não tivera merecida,

Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais servira, se não fora
Pera tão longo amor tão curta a vida.


A figura bíblica de Raquel evoca a história de alguém que, para merecer a felicidade, tem de passar por algumas provas, entre elas, a paciência de esperar com resignação, como , aliás, muitas figuras femininas da literatura gaúcha ( Ana Terra, Bibiana- personagens de O TEMPO E O VENTO de Érico Verissimo)
Na obra, a mulher, apesar de apresentar o perfil das musas do romantismo, sente desejos carnais e os contêm.
Alguns personagens masculinos valorizam a figura feminina bem mais como ser humano normal do que como ser idealizado. É o caso de Miguel que rompe com os preconceitos e amanceba-se com Iracema que, além de preta é pobre, contrariando todos os desmandos da mãe.
A obra em si apresenta certos aspectos de evolução do elemento feminino e também do elemento masculino.
Raquel luta até seu limite. Judite Maria admite a sua insatisfação sexual e afetiva.
Antônia encontra na loucura o seu melhor elemento: o poder de santificar-se com a própria nudez.
Saturnino é a mostragem da persona poética capaz de compreender a alma frágil de Raquel e a poesia como uma constante no comportamento de Francisco.
Paula Pires é o retrato do perfil exigido pela sociedade: sua poesia não tem grandes atrativos, não tem o talento natural de Lobo da Costa, mas está enquadrado no perfil comportamental que figura como pré –requisito de aceitação social.
O mais importante na obra de Manoel Soares de Magalhães é que ele consegue fazer com que um romance simples figure como literatura e ainda resgate a dignidade, a honra e a importância de Lobo da Costa como pessoa e, por isso sujeito às fraquezas, e naturalmente como o homem cuja poesia foi superior ao vício.

´QUANDO MORREM AS MACABÉAS

QUANDO MORREM AS MACABÉAS


Escrever sobre A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, é também, entre perspectivas comparatistas, abordar a sexualidade, o perceber-se mulher, fêmea, desejável, o descobrir-se amada, o desabrochar, o passar do casulo para a crisálida.
Macabéa é isso: o enrustimento, a negação do bicho-mulher, o enclausuramento, o celibato, o viver mesquinho, enfim... lambuzar-se de cachorro-quente engordurado, sonhar com grandes estrelas, um universo muito longínquo para quem se acha no dever de pedir desculpas por existir.
Reportando-se a diversas personagens femininas que permeiam o imaginário dos leitores e escritores constata-se que, uma vez descoberta a metamorfose, ou seja, quando o casulo dá lugar à borboleta, neste momento surge ou arde a mulher: é a morte, literal ou não, de todas as Macabéas.
Iniciemos pois no cenário teatral pelotense. O escritor riograndino, professor Valter Sobreiro Júnior, radicado na cidade de Pelotas, criou a “China Rosa “ e a “Andreza”.
A China Rosa, prostituta do período da Revolução Federalista de 1893, ao descobrir-se mais mulher do que amante, é surpreendida pela trágica e comovente “desmacabeização” nos braços de seu amor.
Cito Sobreiro:
“ Gabriel, meu bom amigo,
me tocaste o coração.
O corpo qualquer um toca,
mas o sentimento não. “
(Maragato- página 82, editora e gráfica da Universidade Federal de Pelotas)
Para Andreza, em DOM LEANDRO OU OS SENDEIROS DO SANGUE, ser mulher consistia em fazer-se mãe, uma vez que não era desejada pelo marido. Ao ter seu filho e este vir ao mundo sem vida, a personagem sentiu o gosto de ser mãe e mulher , bem como o amargor de perder tudo isto.
Cito Sobreiro:
“ANDREZA: Apartado de mim junto ao meu seio
neste inchaço de leite prematuro...”
(DOM LEANDRO OU OS SENDEIROS DO SANGUE- página 83-Educat-1999)
É a metamorfose dolorida do processo inverso : a mulher que volta a ser MACABÉA.
Em A MEGERA DOMADA, de Willian Shakespeare, temos a azeda e mal humorada Catarina, que nega sempre a sua sexualidade no difícil processo de sedução com Petruccio. Uma vez vencida, falece a MACABÉA e nasce uma Catarina amada, acariciada, vibrante, mulher que sai do casulo.
Viajando por GRANDE SERTÃO VEREDAS de Guimarães Rosa encontramos a MACABÉA Diadorim que não teve o seu desabrochar.
Cito Guimarães Rosa: “ De Maria Deadorina da Fé Bettancourt Marins- que nasceu para o dever de guerrear e nunca ter medo, e mais para muito amar , sem gozo de amar...” (GRANDE SERTÃO VEREDAS- PÁGINA 458)
Encontramos em “DONA FLOR E SEUS DOIS MARIDOS “ uma flor incandescente , quando na companhia de Vadinho e uma flor Macabéa quando casada com o farmacêutico.
Já em IRACEMA, de José de Alencar, a virgem dos lábios de mel deixa de ser MACABÉA quando gera Moacir, o filho da dor. É o romper com sua tribo um passo para a metamorfose.
Também Chiquinha Gonzaga transpõe, traz o maxixe, o lundu, o florescer, o desabrochar.
Quem sabe falemos então na Rita, personagem do conto “A CARTOMANTE” de Machado de Assis. É o amor por Camilo, mais do que a suposta fúria passional de Vilela, que faz morrer a MACABÉA. A formosa e tonta Rita era apenas uma dama infeliz. Neste conto é a sibila, a pitonisa, que dá, por assim dizer, o grande empurrão para o desabrochar da Macabéa.
O viver “ralo”, “medíocre”, destas mulheres consiste no não imaginar que o bicho- mulher é a mulher-borboleta que sai do casulo e voa procurando polinizar a falta de limites do universo feminino.
A Hora da Estrela é, na verdade, a hora da constelação, da metamorfose, da transladação, é o momento em que a mulher olha no espelho e consegue, como escreveu Machado de Assis em seu conto O ESPELHO, estabelecer a diferença entre a sua alma externa (aquela que os outros enxergam) e a alma interna (aquela que realmente é) .
O que se conclui desta tentativa de achar um pouco de MACABÉA no imaginário das personagens estudadas é que não basta mudar o exterior: pintar as unhas, os cabelos, delinear as sombrancelhas. Para assassinar a MACABÉA é preciso mais: é preciso deixá-la viver. Não se mata o que não se vê. É preciso criar marcas:“MARCABÉAS.”
Há um momento em a Hora da Estrela em que sua colega de trabalho lhe rouba o seu homem e ela não reage , não enfurece, acha que a vida ,é assim. Vai em uma cartomante que lhe fala todas as verdades que são as verdades de quase todo o universo feminino , os nossos complexos de cinderelas , porque passa o tempo e a gente ainda quer um Olímpico de Jesus Moreira Chaves. eu me apaixonei pela MACABÉA, pelo seu viver tão fora da realidade, com o seu contentar-se com um radinho , com um docinho, com a sua tosse que embalava o sono das colegas de quarto.
Entendi facilmente que o narrador tinha um eu lírico feminino. Eu vivi o mundo de MACABÉA, de ter um chefe graúdo para o qual devemos responder com lisura, de ter colegas que são tão melhores do que a gente em muitas coisas, de ter várias Marias como colegas de serviço, todas razoáveis, incansáveis, competentes, batalhadoras, em série. Fiquei feliz porque o narrador tendo o eu lírico feminino, ofereceu a possibilidade de sonhar que MACABÉA morreu acreditando em tudo que a cartomante lhe prenunciara... É tão bom acreditar... mas acho que morri um pouco com MACABÉA.
“ Eu agi sempre pra dentro... eu nunca toquei na vida.” ( Fernando Pessoa)