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sexta-feira, 29 de maio de 2009

Blogando sobre Eurípedes

COMENTÁRIOS SOBRE AS PRINCIPAIS OBRAS DE EURÍPEDES

a) SOBRE AS BACANTES
Sêmele tem um filho com Zeus, mas suas irmãs, que seriam as bacantes posteriormente, falam que Sêmele dera seu amor a um mortal e, instruída por seu pai, Cadmo, atribui a Zeus sua paixão pecaminosa. Zeus, irado, mata Sêmele com um raio. Dioniso resolve tirar o juízo das irmãs e coloca-as para viver nas montanhas. Ele faz com que Agave mate seu filho Penteu, assim deixa Cadmo sem descendentes. Um dos traços que assemelha Medeia de As Bacantes é a questão da importância de deixar descendentes. Parece-nos que Cadmo e Jasão têm o mesmo castigo, perdem as suas descendências. O prólogo é realizado pelo próprio Dionísio que antecede ao público o motivo de sua vingança: suas tias negaram o fato de ele ser filho de um Deus e Penteu se recusa a efetuar o culto em homenagem a ele (Dionísio). O final é trágico. Cadmo é transformado em serpente.

b) SOBRE AS TROIANAS

Este foi o motivo que aparentemente causou a guerra de Tróia. O jovem Paris se corrompe porque Afrodite , a deusa da lascívia, deusa do amor promete-lhe o amor de Helena, esposa de Menelau (“...o filho que, por causa de uma mulher despudorada, destruiu as torres de Tróia...”página 119- Universidade de Bolso). Helena segue Paris. Depois de estarem sitiados por 10 anos, os Troianos são vencidos pelos gregos. Esses então resolvem sortear as troianas. A peça começa com Hécuba, mãe de Polixena e Cassandra dissertando acerca de suas dúvidas sobre o destino das mulheres de Tróia. É muito interessante observar a nobreza de Hécuba, pois antes de indagar a Taltíbio sobre o seu próprio destino, ela está muito preocupada com o rumo que tomará as vidas de Cassandra e Polixena (suas filhas), Andrômaca (sua nora , esposa de Heitor e mãe de seu filho). Andrômaca é casada com Heitor, mas depois da guerra, seu destino é ser tomada pelo filho de Aquiles como presa especial. Polixena morre e vai servir o túmulo de Aquiles como informa Taltíbio, Cassandra, a sacerdotisa de Apolo, está destinada a ser concubina de Agamenom. Não podemos deixar de citar que, por ocasião da morte de Polixena, novamente, na obra de Eurípedes, encontramos traços de seu ceticismo, quando em diálogo com Andrômaca, Hécuba ressalta: “ A morte é o nada” , ao que Andrômaca responde: “Os mortos, eu digo, são como se não tivessem nascido...” ( Páginas 120 e 121- Universidade de Bolso )
Há coisas que nos parecem comuns nas tragédias, como por exemplo: O filho de Heitor é morto para que não haja descendência e não ocorra a possibilidade de reconstrução de Tróia. A morte para não deixar descendentes aparece em Medeia, As bacantes e As Troianas.

c) SOBRE MEDEIA

Medeia apaixona-se pelo forasteiro Jasão, que sai de Iolcos e chega em Corinto para buscar o Velocino de ouro. Ela ajuda a construir o grande cidadão que é Jasão, mas ele desposa Glauce e a abandona.
Por que Jasão queria o Velocino de ouro? Na verdade, Jasão era o verdadeiro herdeiro do trono de Iolcos, mas quem estava no poder era seu tio Pélias, meio irmão de seu pai. Pélias deveria entregar o trono para Jasão assim que ele atingisse a idade adequada, mas Pélias manda Jasão em uma missão na Cólquida para recuperar o poderoso talismã, o Velocino de ouro, acreditando que Jasão não retornaria vivo dessa missão. Chegando lá, Medeia, a guardiã do Velocino se apaixona por Jasão . Éetes o rei da Cólquida não concorda com a união dos dois e elabora missões impossíveis e perigosas para Jasão realizar. Entre essas tarefas , ele deveria atrelar dois touros com cascos de bronze e que cuspiam fogo. Medeia oferece para Jasão uma poção que torna o corpo do seu amado imune aos perigos e ele consegue realizar a tarefa, mas o pai de Medeia recusa-se a cumprir o trato e manda atear fogo em Argo, o navio de Jasão, com toda a tripulação dentro. Novamente, Medeia é quem resolve o problema, salva os tripulantes e foge com Jasão e os argonautas. O irmão de Medeia , Absirto, vai ao encalço, Medeia o mata, esquarteja e distribui os pedaços do corpo para que o seu pai se atrase juntando as partes do filho, porque era importante dar um funeral digno aos familiares. Quando chegam em Corinto, Jasão resolve, por questões políticas, tomar por esposa Glauce, filha de Creon, que é o rei de Corinto. Medeia não aceita essa situação.,mas ela é uma estrangeira, uma bárbara, o casamento com Jasão sequer é reconhecido em Corinto. Sente traída, humilhada, vilipendiada, abandonada e só, porque não pode sequer voltar para sua terra. Não aceitando as explicações de Jasão, Medeia arquiteta a sua vingança: finge que está conformada com a situação e oferece para Glauce,o manto dos fogos inextinguíveis, manto este que, ao entrar em contato com o corpo, rompe em chamas. Creon se desespera e tenta salvar a filha, mas também morre. Não satisfeita, Medeia mata os seus dois filhos para castigar Jasão. Agindo desta maneira (matando Glauce e as crianças) ela acaba com a descendência de Jasão e este é o pior castigo para ele, na visão de Medeia. Que sentimentos carrega alguém que abre mão de sua família, mata seus entes queridos e é descartada pelo companheiro, o qual desconsiderou toda uma trajetória de cumplicidade?

SOBRE OS PERSONAGENS

MEDEIA: Medeia, que nasce na Cólquida, uma terra de magos, é uma grande feiticeira, a guardiã do Velocino de Ouro. Por amor a Jasão, ela mata, rouba, foge, rompe laços com a família. Percebemos na protagonista, a coragem de uma mulher a frente do seu tempo. O grande diferencial de Medeia é que ela ousou escolher o próprio companheiro. Quando Eurípedes poetisou Medeia, as mulheres daquele tempo assistiam ao espetáculo e deviam se reconhecer na figura da protagonista. As jovens iam para o casamento sem saber o que estava por vir. O marido tinha sobre elas direito de vida e morte.
AMA: Serva de Medeia. É também ela que antecede os acontecimentos (Prólogo). È uma figura grotesca, tem medo das ações de sua ama, mas sua linguagem mostra que ela não aprova, mas compreende a ama, apesar disso, não se pronuncia contra Jasão e não o quer mal. Quem afirma categoricamente que Jasão não é amigo é o Pedagogo (serviçal que cuida dos filhos de Medeia)
JASÃO: Sabe-se que Jasão foi criado pelo centauro Quiron, o que nos oferece a possibilidade de realizar a leitura que o enfocaria com um eu lírico metade homem, metade cavalo. Na evolução da tragédia, podemos perceber que, na grande maioria das vezes a porção animal se apropria de Jasão, principalmente quando ele procura outra esposa e busca outra filiação. Essa questão de busca de uma filiação mais nobre, mais pura , mais perfeita é a supremacia do lado animal. O grande amor de Medeia, um grande e ambicioso guerreiro que sai de Iolcos e se dirige para a Cólquida para tomar posse do Velocino. Jasão é um homem político e, como tal, coloca a razão acima da emoção e isso pode ser comprovado pelos seus diálogos, pela sua linguagem. Jasão acha que Creon está certo ao expulsar Medeia de Corinto porque, afinal, ela é uma bárbara, devia se sentir feliz por ter filho gregos e viver na civilização e não agiu certo falando contra a casa real.
CREON: Rei de Corinto, pai de Glauce, a personagem com quem Jasão contrai núpcias. Creon conhece os poderes de Medeia e fica sabendo que ela fala contra a casa real e, temendo por sua filha, ele a expulsa de Corinto.
EGEU: É rei de Atenas e filho de Pandiom. Egeu procura Medeia porque não pode ter filhos. Medeia, conhecedora de ervas e poções, oferece-lhe a possibilidade de ser pai, se ele a acolher, uma vez que foi expulsa de Corinto por Creon.
CORO: O que se pode apreender do coro é que a sociedade não aprovou a atitude de Medeia, embora reconhecesse que Jasão agia de forma errada.

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