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terça-feira, 4 de maio de 2010

BLOGANDO SOBRE ALICE,O COELHO E A ESCOLA PÚBLICA.

HÁ MAIS COISAS ENTRE A DURA REALIDADE E O QUE NOS ENSINAM NA UNIVERSIDADE

Percebemos que, por parte dos órgãos governamentais, há toda uma atenção direcionada para o bem estar do aluno (pelo menos é o que o governo tenta, desesperadamente, mostrar). Pergunto: quem cuida do professor? Não falo daquele professor que teve oportunidade de fazer especialização, mestrado e doutorado e que está dentro da universidade, por merecimento, é claro, não podemos negar, mas que, na grande maioria das vezes, não têm a “vivência” de escola pública. Cabe salientar que vivência é diferente de experiência. A experiência se adquire em qualquer momento (esta pode ser grande ou pequena), mas para se ter vivência... é preciso vivenciar, viver por um longo tempo determinada realidade. Uma experiência podemos ter em duas semanas, seis meses, um ano ou dois, mas vivência é “viver dia após dia uma determinada realidade, dela retirar sustento”. Muitos fizeram suas práticas, observaram, escreveram, mas não vivem, ou sobrevivem, da labuta diária de ser funcionário do estado ou município. É a difícil realidade dos que têm de improvisar dia após dia, mas na universidade não nos ensinam como improvisar felicidade, alegria, tranqüilidade, quando se tem contas atrasadas, filhos necessitando de ajuda, o material escolar, a conta do telefone, o aluguel, o médico, o dentista e um contracheque que é tão difícil de decifrar, os cálculos parecem trabalhar sempre contra o funcionário... os estornos abusivos e inexplicáveis, uma matemática inintelegível.
Os mestres e os doutores, na grande maioria das vezes, são pessoas que estudam as teorias e nos ensinam a trabalhar. Mas se os mestres e os doutores, que já leram Paulo Freire, Jussara Hofmann, Carlos Brandão, Jean Piaget, são pessoas que nos ensinam como ensinar, por que a educação ainda continua deficitária? Por que continuam formando esta leva de incompetentes que somos nós, os profissionais da educação, os mal-humorados da rede estadual e municipal? São eles mesmo que permitem que esta leva saia das universidades com seus “diplominhas”... e lá vão eles, “lépidos, fagueiros e galopantes”, mal sabendo que serão como “Daniel na cova dos leões”, pra não dizer que desconheço a disciplina que sou obrigada a ministrar ...
Vi, na universidade, professores reclamando de alunos que não sabiam ler e estes mesmos alunos foram aprovados no final do semestre. Será que eles aprenderam a ler “em um semestre de quatro meses” o que não conseguiram em onze anos na escola do estado ou município?
Falo do professorzinho da rede pública, este que, somente com as teorias da universidade, é jogado em uma arena todos os dias, este profissional que sustenta, ou tenta sustentar, sua família com um salário deficitário, que não tem direito de se aperfeiçoar, afinal, não há como substituí-lo, é o sujeito que é concursado em duas matrículas que somam quarenta horas, muitas vezes com 18 turmas, cada uma com uma média de 35 a 40 alunos, mas que se vê obrigado a trabalhar sessenta horas, este profissional que está perdendo todos os direitos adquiridos, que só pode gozar sua licença-prêmio nas vésperas de se aposentar, afinal, para usufruir o direito adquirido ele perde sua lotação, ou seja, ao retornar da licença-prêmio, poderá ser transferido para a Picada Sabão ou quem sabe para a Picada das Antas, ou, se não andar nos trilhos direitinho, vai direto para Restinga Seca (nada contra estes lugares, o fato é que ficam bem longe de minha residência atual) . O secretário da educação ( alguém que já foi professor... coisa difícil de acreditar, a julgar pelas suas colocações fantasiosas a respeito da realidade triste que nos assola), no dia 5 de março de 2010 declara, no jornal Zero Hora, que não há falta de professores. Será que ele conhece a realidade da secretaria que administra? É claro que não é vacância momentânea, é carência de professor mesmo. Diz que para casos de carência há os contratos e que o procedimento é demorado. Então por que não muda o procedimento? E por que contratar, se tantos passaram em concursos e não foram chamados? Estamos vivendo uma situação em que qualquer um pode ser professor de qualquer coisa. Até eu, ateia convicta e praticante, ministrei aulas de religião ( ou valores morais...devem ter mudado o nome porque valores qualquer um pode dizer que tem, mas se são bons... bem, aí a conversa é outra), claro que só fiz isto “sob livre e espontânea pressão”, pois se não me submetesse a lecionar religião ou valores morais eu seria transferida para outra escola.
Por que, neste país, a moralização começa debaixo para cima? Sempre é o oprimido que tem de dar o exemplo ( claro que o oprimido tenta, sempre empurrado e obrigado pelo opressor, porque não tem ou não sabe como se defender).
Na universidade passamos por momentos mágicos, mas quando chegamos na escola pública a realidade é bem outra: os professores não são bonitos, simpáticos e cheirosos como nossos mestres do curso superior, não tem showzinho, não tem data show, e quando tem, o infeliz fica constrangido por não saber usá-lo, as turmas são muitas e infindas e o professor novo chega cheio de energia, cheio de sonhos e vai sendo boicotado, vetado, coibido, apunhalado, constrangido, aviltado, vilipendiado, dia após dia. O mundo é windows , mas o governo oferece Linux ( e sem poder mudar... é proibido) e a sala de computadores fica quase em desuso porque é preciso esperar que o colega mais sabido tenha tempo de ensinar, mas os registros permanecem: “o governo oferece informática”. E o professor? Bem chega um tempo que esgota a sua vertente “invencionática”. De repente, do nada, sem uma capacitação, nos atiram uma nova metodologia, não tão nova, diga-se de passagem, muito bonita e não menos distante da realidade de quem está assoberbado com tantas turmas e diferentes adiantamentos... esta nova metodologia esbarra no financeiro, na carga horária, na ausência de material para os alunos. O que as pessoas não sabem é que não veio material para todos os alunos. Muitos querem saber quanto o governo gastou com LIÇÕES DO RIO GRANDE, quem elaborou este farto material para ser usado durante um mês? Os autores ganharam um adicional? O material é interessante, não podemos negar, mas... como será no mês de abril? Quem comprará os cds e os filmes que o professor precisa usar? Sim, porque pirataria é crime e precisamos ser exemplo para nossos alunos. A escola bancará o xerox? (só para não dizer que não falei dos espinhos... xerox também é ilegal). E o tempo? Por que o professorzinho do estado não têm dedicação exclusiva? Se tivesse tempo de planejamento ele seria mais bem humorado, talvez. Como podemos preparar 32 aulas exitosas em apenas quatro horas... e o coitado do professor que não almoça e é jantado pelo sistema que insiste em colocá-lo como o grande vilão da tragédia cultural que há muito já está instaurada em nosso país, em nosso estado. Por que será que há tantas licenças de saúde? Será mesmo que este profissional é um preguiçoso, um vadio? Será mesmo que ele é capaz de inventar uma depressão e passar na perícia? Bem, se aventarmos que ele é preparado o suficiente para simular tudo isto, ainda assim eu pergunto: será que tudo está mesmo bem? O que leva este profissional a fazer isto? É lógico que nada está bem na vida do professorzinho. Eu afirmo: se há um grande número de professores evitando a sala de aula “há algo de podre no reino da Dinamarca”, algo não está bem na vida destes profissionais.
Dizem-nos que o nosso verdadeiro aprendizado virá com a prática, mas é neste exato momento que descobrimos que nossas constatações de nada valem, nossas ideias não são levadas em consideração se não tiverem sido ditas anteriormente por um teórico famoso. Não temos direito de ter ideias sem citar o fulano, o sicrano e o beltrano que estudou não sabemos onde e escreveu não sabemos o quê... não sabemos porque falta tempo para leituras, para um aperfeiçoamento digno. O que constatamos não têm valor porque somos preguiçosos, incompetentes, mal humorados. Pelo menos nossas ideias e constatações são nossas mesmo, fruto de nossas vivências e labuta diária. Não estamos com dólares nas nossas desbotadas calcinhas e cuecas. Levamos cadeiradas, bofetões e temos de ouvir todos os dias acerca de nossa incompetência. Eu me pergunto: por que meus pais me colocaram na escola? Antes tivessem me cortado um dedo para que eu me tornasse chefe desta nação.

BLOGANDO SOBRE O DIA EM QUE NÃO PRESTEI ATENÇÃO NA AULA DE TAÍS FERREIRA

O MACACO ESTÁ CERTO? ÀS VEZES ME CONFUNDO... NÃO SEI QUEM É O HOMEM E QUEM É O MACACO
(O título foi inspirado no livro A REVOLUÇÃO DOS BICHOS de George Orwell ) sobre a revista viva

Agora com apenas R$1, 49 a grande maioria das feiosas, gorduchas e sonhadoras podem, pelo menos, conhecer a vida maravilhosa e glamorosa das mulheres das capas de revistas e o que essas mulheres fazem para ficarem turbinadas e gostosas, mas é necessário salientar que beleza implica demandas como acessórios chiques a partir de R$ 5,90. Depois de ficarem gostosas poderão ler a sessão que conta as 8 posições que os homens mais gostam na cama, afinal o macho predador da espécie humana evoluiu, ele não quer somente a beleza vendida na capa da revista, é preciso mais, é preciso conteúdo, inteligência, uma inteligência sexual, é claro, fartas doses de criatividade, não basta “papai-mamãe”, “69”, “y duplo”, “canguru perneta”, “cavalinho”, “escorregador”, “tobogã” ... é preciso mais, é preciso “chicote, algema e cinta-liga”, a mulher moderna tem de ser carinhosa, violenta e independente, preparada física e emocionalmente, afinal vivemos em uma sociedade em que os valores preservados são beleza, saúde e juventude. E, vamos combinar, é muito fácil ser bonita... é só comprar a revista e seguir direitinho tudo o que ela ensina: 11 pílulas que turbinam a beleza, que acabam com celulite, espinhas, manchas e flacidez, como perder 5kg em 10 dias, como eliminar a fome e a barriga, o iogurte mágico com lactobacilos vivos, a granola e barrinhas de cereal.
Depois de ler a revista, senti falta de acreditar em magia. Seria tão mais simples se eu fosse ao banheiro, ficasse nua e olhasse para a minha barriga e gritasse: sai barriga, este corpo não te pertence... Sonho, apenas sonho e estou longe de me chamar Calderon. Decididamente... a vida não é sonho... para a grande maioria é um pesadelo com o qual já se acostumaram.
Comecei a me sentir a mulher mais rica do mundo quando meu pai comprou um chuveiro ( frio ) e uma televisão... eu era menina ( e isso não faz muito tempo... é incrível como o tempo custa a passar para pessoas alegres, simpáticas, extrovertidas e “modestas” que fazem de suas tragédias pessoais uma ponte para a grande comédia do autoconhecimento...). Onde parei mesmo? Ah, quando menina eu assistia ao programa PLANETAS DOS HOMENS, que todos devem conhecer, porque, insisto, não faz tanto tempo assim... então... havia uma imagem que nunca me saiu da memória: um macaco descascando uma banana e, de dentro, saía uma linda mulher e tudo que eu mais desejava era ser a mulher que saía de dentro da casca da banana. Eu buscava em todas as revistas mecanismos que me tornassem bela como a moça que saia de dentro da banana. Era a nossa primeira televisão... a televisão era a maneira que aquela menina (que , insisto, sou eu... ) encontrava de sonhar com um mundo diferente onde não figurassem tantos exemplos que não queria que fizessem parte do seu universo. As coisas se confundiam na minha infeliz cabecinha: ora eu queria ser religiosa para acabar com a pobreza dos que ainda eram mais pobres do que a gente e ora eu queria ser a moça que saía de dentro da casca da banana.
É preciso que se compreenda que nossas meninas menos privilegiadas economicamente, ou melhor desprivilegiadas mesmo, não têm muitas escolhas. Suas vidas, seus universos são limitados, estão muito ligados às suas trajetórias e como elas estão se constituindo. As bancas de revistas não enchem os olhos de nossa infância sacrificada com literatura de qualidade e, na falta do que é bom, a necessidade de ser igual aos que são bonitos e bem sucedidos faz com que adquira-se algo desnecessário. Podemos criticar estas meninas? Criticá-las seria estar negando o meu passado. O que é possível fazer é oferecer outras possibilidades.
Não sei como, nem por qual razão acabei me distanciando deste mercado de ilusões, mas de algo tenho certeza: ridicularizar quem lê, não é o melhor caminho.

BLOGANDO SOBRE PAULO GAIGER I

INDIGNADO SIM... PORÉM, COM OS OLHOS DA BONDADE

Falar sobre qualquer texto de Paulo Gaiger pode ser um desafio para muitos, um presente para outros tantos, mas para mim... no mínimo é suspeito, porque tenho grande simpatia por toda a trajetória profissional deste formador de opinião que habita salas de aula, espaços desnudos, periféricos, palcos e páginas de jornais de nosso estado. Se um dia ele esquecer algo sobre sua própria vida, muita gente vai aconselhá-lo a me procurar. Não sei tudo, mas quase tudo. Se fosse adolescente, provavelmente teria um pôster dele no meu quarto. Paixão? Claro que não. Admiração, profunda, contundente e verdadeira. Mesmo com seus defeitos ( que não são poucos... a ironia e o sarcasmo são os mais aviltantes... fico incomodada quando falo sério e ele faz troça e desconsidera o que digo), ainda assim é pessoa de rara beleza e de bondade inigualável, não menos inteligente, não menos perspicaz, um adulto menino “aberto para a eterna novidade do mundo”. É alguém com quem tenho vergonha de conversar pela dificuldade de organizar, de maneira suscinta, a linguagem verbal, mas gosto muito de escutar. Na adolescência eu, como quase todas as meninas, tinha o hábito de escrever e, ingenuamente, achava que aquilo era a melhor obra do mundo. Quando fiz minha primeira graduação, meu professor Walnnei Hammes, pessoa extremamente generosa, após ler alguns textos que produzi, escreveu-me uma carta e disse o que eu diria hoje e sempre para Paulo Gaiger: “ Quando um texto cai nas minhas mãos ou ele abala as estruturas ou nada acontece: os teus estão no primeiro plano.” É... são OS OLHOS DE BONDADE de alguém que controi o seu melhor texto quando está tomado de profunda indignação e é esse poder de indignação que faz com ele reflita sobre a formação do ator e a necessidade de que se construam profissionais que estejam aptos para partilhar, trocar conhecimentos, gentilezas, bondades e generosidades.
É deveras ácido quando faz referência às “freiras do convento da esquina”, seu tom cortante desconsidera a ingenuidade dos muitos que se postaram nestas esquinas pelos mais diversos motivos, entre eles, a certeza de que o mundo pode, em pequenas doses de amor pela coletividade, ser modificado. Deus, com toda a certeza, não existe mesmo, mas talvez exista, ou existiram algumas noviças que se descobriram sem as delicadezas necessárias para o matrimônio e que tenham realmente sonhado em dedicar as suas existências para causas coletivas e acreditaram que aquele era o melhor caminho. Não se pode exigir das pessoas uma consciência que elas não conseguiram construir em determinado momento porque o que lhes foi oferecido em grandes e avassaladoras porções eram justamente fartas doses de ignorância. Se me envergonho do que fui? Claro... todos os dias, mas não me culpo, apenas choro baixinho, no meu quarto, sem incomodar ninguém, sem cobrar um leite que foi derramado em um passado que deve ficar exatamente onde está: no passado. Também não culpo meus pais nem pela opressão, nem pela agressividade: ofereceram o que podiam oferecer. Há tantas pessoas com preparo, discernimento e que cometem crimes que são acobertados com maior aleivosia. O que se espera de uma menina sem estudo, órfã de mãe e pai, vivendo de favor na casa dos parentes, sendo humilhada e aviltada dia após dia, com quatro irmãos menores para criar? Ela enxergou no meu pai a esperança de dividir o fardo. Casou aos aos 16 anos e, aos 26 já tinha seis filhos. Fizeram muito. Bem mais que qualquer governante. Governaram com mãos de ferro, relho, correias, joelhos em tampeiros, castigos como ficar virado para a parede, bofetadas e beliscões, nos intervalos muita oração, é claro. Não foi o adequado, mas foi o que eles entendiam como certo. Saldo? Nenhum ladrão, nenhum drogado, todos com curso superior e emprego fixo. Família de bancários, professores, engenheiros e funcionários públicos. Todos atordoados, é verdade: dois católico, três ateus, uma umbandista ou espírita... sei lá. Acho que até poderia ter sido pior...
O autor também crê na flexibilidade das pessoas, pois sabe que o radicalismo é o caminho dos muros e não das pontes e das alianças, portanto se o ator julga que tudo e todos devem mudar, menos ele, acaba enveredando por caminhos que levam à linguagem barata e panfletária dos textos pobres e maniqueístas.
Mostra-nos o educador e artista, como estamos acostumados com coisas que deveriam nos revoltar: a pobreza, a miséria, gente que faz das ruas, dos viadutos, suas moradas, as chacinas, a precariedade da saúde pública, a violação dos direitos infantis. A gente, cala, é omisso, é conivente. Não fomos preparados para gritar, temos medo de gritar sozinhos, ser um único grito no meio da multidão, somos egoístas. Quando nos deparamos com a triste figura em que nos transformamos, dá vergonha, dá tristeza. É terrível pensar que o tênis que a gente usa é fruto da exploração da mão de obra infantil, mas é preciso por a emoção de lado e começar aos poucos, mudar o que pode ser mudado, não causar grandes impactos, passar sem ser quase notado.
Concordo com Paulo Gaiger quando seu texto afirma que nossa inserção no mundo poderá ser medíocre, mas jamais neutra. Reporta-me a Gaudêncio Frigoto quando este afirma que o neutro é duplamente posicionado. Quando nos calamos nossa posição já foi tomada, ou seja, se alguém está sendo lesado e nada fazemos, optamos por estar do lado do opressor. Escrever, atuar, lecionar teatro, proporcionar pequenas maneiras que remetam à reflexão são atitudes possíveis, caso contrário não leríamos as indignações de Paulo Gaiger, não nos questionaríamos acerca do adestramento diário que sofremos, sendo bombardeados por todos os lados com a idéia plantada e regada no senso comum de que tudo isto é parte do sistema e então vamos legitimando nossa indignação domesticada, bestificada, não nos sentiríamos esbofeteados, chicoteados ao percebermos que somos tão... estúpidos.
O mundo de Walter Salles, de Camilo de Lélis, do padre Marcelo, da Xuxa, do Boal, do Antunes Filho, do Paulo Gaiger, de Fabiane Tejada e até o da Dagma , é o mesmo, apenas eles assinaram pactos diferentes. Em se tratando de educação, formação de atores, talvez olhares de bondade e de indignação sejam caminhos bem mais difíceis, mas muito mais honestos e dignos de serem trilhados. Da minha parte, não pretendo assinar o pacto da neutralidade, nem usar as mesmas armas do meu opressor. Quero sempre acreditar que a bondade é algo que se constrói, que a forma de resistir é fazer um trabalho bom e comprometido, sem reforçar os códigos de opressão. Sei que nem sempre vou acertar, sei que uma vida é pouco para o muito que se tem a fazer, sei também que quando se faz pelos outros quem mais ganha somos nós mesmos. Sei que a vida se torna mais leve quando aprendemos a dividir, acariciar, apaziguar, abraçar e, mesmo que nos vejam como tolos e ingênuos, o mais importante é trilhar o caminho que julgamos ser o mais acertado, no meu caso, lutar para que se formem atores capazes de olhar para o mundo com bondade.

BLOGANDO SOBRE PAULO GAIGER

ARMAZÉM: O ACONDICIONAMENTO DE UM CORPO DILATADO
(DAGMA COLOMBY)

Afinal, o que é mesmo ARMAZÉM? Segundo o dicionário pode ser depósito de mercadorias, munições ou até grande estabelecimento comercial. Até o ano de 1983 era exatamente o que acontecia com a produção musical de Paulo Gaiger , com sua postura irreverente, contestadora e romântica a um só tempo: estava armazenada na memória de quem escutava o garoto de 24 anos, mas esta realidade foi modificada com o lançamento do cd ARMAZÉM. Desde então as pessoas que apreciam a boa música do Rio Grande do Sul podem sorver o que há de melhor nesta terra. É um trabalho que revela a visão de mundo do artista, seu comportamento ético de acordo com os valores que julgou cabíveis de serem amealhados e defendidos com propriedade ao longo de sua vida.
ARMAZÉM, além de celeiro que acondiciona as munições internas, as defesas do artista, é também um grito de repúdio aos políticos corruptos, ao pseudo-moralismo que é tão comum em vertentes religiosas. Sua produção, ironicamente, é carregada de um lirismo espiritual, mas não a espiritualidade rançosa com cheiro de batina, virgindade e tristeza de sexta-feira santa, e sim a espiritualidade que é construída e atrelada ao caráter do ser humano que opta pela dignidade, retidão, firmeza de caráter, coisas que, decididamente, não se aprendem dentro de entidades religiosas, mas que para lá são levadas por quem almeja participar da construção de um mundo melhor, sem usar como moeda de barganha e medalha de mérito a promessa um espaço sagrado reservado em outra dimensão, ao lado de um suposto criador. As letras são ousadas, inteligentes, agressivas, atraentes e românticas, casam perfeitamente com a imagem do artista que se veste com cores quentes e degusta a bebida preferida de Dionísio, revelando alguém que coloca paixão em tudo o que produz.
É interessante como o encarte do cd já denuncia o perfil psicológico do artista: um olhar esperançoso que reflete o desejo de que o mundo seja mais acolhedor, alegre, colorido, humanizado, mas cheio de obstáculos a serem transpostos, muitos aviões que bem podem representar o desejo de liberdade do músico. Temos portas a serem atravessadas e que estão abertas, denotando que, quando se é jovem, não existem obstáculos intransponíveis e nem fortalezas inexpugnáveis,

BLOGANDO SOBRE A TAL DA ÉTICA

DO CADERNO DE TRISTEZAS DA PIOR ALUNA DA TURMA
AFINAL, O QUE É A TAL DA ÉTICA? NO VELHO DICIONÁRIO QUE HERDEI DE MEU PAI, EM PÁGINAS AMARELADAS DIZIA QUE ERA RELATIVO À MORAL. E O QUE PODERIA SER A TAL MORAL? RELATIVO AOS BONS COSTUMES OU POSSO DIZER QUE BONS COSTUMES DEPENDEM DO PONTO DE VISTA? NÃO COMPARTILHAR É SER EGOÍSTA, TENTAR NÃO SER EGOÍSTA, TENTAR SER AMIGÁVEL, TENTAR CONQUISTAR ATRAVÉS DE GENTILEZAS É IMORAL? NÃO É ÉTICO? MEU DEUS, SERÁ QUE HITLER TAMBÉM PASSAVA O CADERNO PARA OS COLEGAS? SIM PORQUE HITLER ESCREVIA, PINTAVA... SERÁ QUE HITLER AGUAVA AS PLANTAS, CAPINAVA, LEVAVA O CUSCO PARA PASSEAR? SERÁ QUE FOI DESSA MANEIRA QUE ELE ARRANJOU TANTOS ALIADOS?
SORA, POSSO LER A REDAÇÃO DO ZINHO? PODE SIM , MEU FILHO, LÊ TAMBÉM A DA ANINHA , DA JUJU , DA NENECA E DO OTACÍLIO, DEPOIS TU UTILIZA COM AS TUAS PRÓPRIAS PALAVRAS, AS IDEIAS QUE ACHASTE INTERESSANTES. ESCREVE SOBRE AQUILO QUE CONCORDASTE E TAMBÉM SOBRE O QUE DISCORDASTE. E ISSO NÃO É COLA, SORA? CLARO QUE NÃO, ISSO É PROCURAR REFEFÊNCIAS SOBRE UM ASSUNTO QUE AINDA NÃO DOMINAS, MAS DEVES CONSTRUIR O TEU TEXTO E BUSCAR OUTROS ESCRITOS, NÃO SÓ OS DOS COLEGAS. SORA, O OTACÍLIO É EGOISTA, NÃO QUIS DAR A REDAÇÃO PRA EU LER E A BABACA, TAPADA DA NENA DA OUTRA TURMA DEU A REDAÇÃO DELA PRA TODO MUNDO E ELA COPIOU UM PEDACINHO DO JORNAL E NÃO COLOCOU ENTRE ASPAS E A SORA TIROU NOTA DELA E DEIXOU ELA DE CASTIGO NA HORA DO RECREIO, ELA FOI CHAMADA NA SALA DA DIREÇÃO E TEVE DE ASSINAR O LIVRO DE OCORRÊNCIAS, CHAMARAM ATÉ A MÃE DELA. BEM FEITO, EU NÃO GOSTAVA DELA MESMO... “CUÊ PUCHA... É BICHO MAU O HOMEM” ( DO CONTO “O BOI VELHO” DE SIMÕES LOPES).
ESPELHO MÁGICO ESPELHO MEU, SERÁ QUE O HITLER É PIOR DO QUE EU?