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sexta-feira, 29 de maio de 2009

Blogando sobre a Terreira da Tribo

NÃO IMPORTA SE A MULA É MANCA... O QUE EU QUERO É ROSETAR... FALANDO SOBRE O AMARGO SANTO DA PURIFICAÇÃO


Mais um domingo em que me preparo para realizar uma avaliação proposta pelo professor Adriano. Almocei com o Tom, comemos chocolate, esperamos o Maicon e ele não veio. Não importa... não devemos nos prender aos descasos e atrasos das pessoas. Devemos, sim, manter velhos e seguros laços de amizades. Rimos, passeamos com minha cadela, tomamos chimarrão e rumamos para o Largo Edemar Fetter, perto do mercado. Eu havia colocado uma roupa bem colorida porque uma bela tarde de outono pedia cores alegres e o Tom estava de chinelos, camiseta e uma velha calça de brim rasgada.
Chegamos lá e o público já estava se aglomerando. O grupo ÓI NÓIS AQUI TRAVEIZ tem uma peculiaridade: coloca lado a lado professores, cachaceiros, cães, meninos de rua, atores, médicos, dentistas, arrozeiros e todos formam uma massa uniforme, assistindo um trabalho coeso, coerente, bem estruturado, maduro, atraente. Falando em massa a primeira coisa que reparei é que não se podia dizer este ou aquele ator se destacou. Não... eles formavam um só corpo, uma só engrenagem. Havia sempre uma preocupação política e social, porque diversas vezes a palavra “ liberdade” era repetida. Em um determinado momento ficou muito claro: estavam falando sobre o golpe de 64, mais precisamente 13 de dezembro de 1964. Era um universo de enfrentamento do povo com o poder, estado de sítio,crimes políticos, liberdade vigiada e algo assustador: ratos representando o poder. Lembrei da professora Taís dizendo na aula que esta nossa superioridade humana é questionável, pois há muito de ratos no DNA humano.
Comentei com o meu amigo Tom: olha só, o poder e as tropas está sendo representado por gorilas. E é verdade: nos anos da ditadura estávamos sendo governados por animais muito fortes, que coibiam o povo de pensar. Reportei-me a um conto de Simões Lopes onde ele fazia a seguinte colocação: “ a anta é grande, mas é uma, os mosquitos são pequenos, porém vários. Então, muitos mosquitos conseguem vencer uma anta.” E assim transcorria o trabalho da tribo de atuadores, fazendo referências aos políticos Getúlio Vargas, , Ademar de Barros, Washington Luís e também ao parlamento. Para mim estaria de bom tamanho se o espetáculo tivesse encerrado com o usado “toque de recolher”nos tempos rígidos da ditadura militar, mas ainda tinha muito mais. Eles mostravam a supremacia da capoeira sobre as armas e de repente a mídia com seu poder mais forte que os canhões anunciava o jogo do Coríntians e Santos no Pacaembu e Pelé distraía a população. Os movimentos eram simples, mas todos muito bem executados, os joelhos dos atores eram trabalhados, alongados, pareciam uniformes, eles possuíam um preparo físico invejável e quando a gente pensava que ia acabar, entrava uma bicicleta em cena, um tanque de guerra. Ouvi uma criança comentar na platéia: “ela está voando.” Era uma cena em que a atriz, não recordo o nome, mas sei que é a esposa do ator Paulo, Flores, finalizava o “depois” de uma cena de amor e ela ficava nas costas do ator enquanto ele corria, a impressão era exatamente o que a menina falava: estar voando, que é o modo que algumas mulheres se sentem depois do amor, mesmo que seja em um momento político de proibições.
A impressão que dava é que se eles tirassem o figurino e as máscaras e desenvolvesse o trabalho, o efeito seria o mesmo Eu e o Tom cada vez mais absortos na encenação, eis que o Tom comenta: Dagma, faz o trabalho sem ler o material que eles estão distribuindo, porque aí tu vais aperfeiçoar a tua capacidade de análise. E assim terminou o espetáculo que versou sobre a vida e a morte de um revolucionário chamado Carlos Marighela, com alegoria, muito ritmo, grande capacidade de falar com o corpo e o que me estarreceu: o olho no olho com a platéia... só para não deixar de citar Peter Brooke.

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