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terça-feira, 4 de maio de 2010

BLOGANDO SOBRE ALICE,O COELHO E A ESCOLA PÚBLICA.

HÁ MAIS COISAS ENTRE A DURA REALIDADE E O QUE NOS ENSINAM NA UNIVERSIDADE

Percebemos que, por parte dos órgãos governamentais, há toda uma atenção direcionada para o bem estar do aluno (pelo menos é o que o governo tenta, desesperadamente, mostrar). Pergunto: quem cuida do professor? Não falo daquele professor que teve oportunidade de fazer especialização, mestrado e doutorado e que está dentro da universidade, por merecimento, é claro, não podemos negar, mas que, na grande maioria das vezes, não têm a “vivência” de escola pública. Cabe salientar que vivência é diferente de experiência. A experiência se adquire em qualquer momento (esta pode ser grande ou pequena), mas para se ter vivência... é preciso vivenciar, viver por um longo tempo determinada realidade. Uma experiência podemos ter em duas semanas, seis meses, um ano ou dois, mas vivência é “viver dia após dia uma determinada realidade, dela retirar sustento”. Muitos fizeram suas práticas, observaram, escreveram, mas não vivem, ou sobrevivem, da labuta diária de ser funcionário do estado ou município. É a difícil realidade dos que têm de improvisar dia após dia, mas na universidade não nos ensinam como improvisar felicidade, alegria, tranqüilidade, quando se tem contas atrasadas, filhos necessitando de ajuda, o material escolar, a conta do telefone, o aluguel, o médico, o dentista e um contracheque que é tão difícil de decifrar, os cálculos parecem trabalhar sempre contra o funcionário... os estornos abusivos e inexplicáveis, uma matemática inintelegível.
Os mestres e os doutores, na grande maioria das vezes, são pessoas que estudam as teorias e nos ensinam a trabalhar. Mas se os mestres e os doutores, que já leram Paulo Freire, Jussara Hofmann, Carlos Brandão, Jean Piaget, são pessoas que nos ensinam como ensinar, por que a educação ainda continua deficitária? Por que continuam formando esta leva de incompetentes que somos nós, os profissionais da educação, os mal-humorados da rede estadual e municipal? São eles mesmo que permitem que esta leva saia das universidades com seus “diplominhas”... e lá vão eles, “lépidos, fagueiros e galopantes”, mal sabendo que serão como “Daniel na cova dos leões”, pra não dizer que desconheço a disciplina que sou obrigada a ministrar ...
Vi, na universidade, professores reclamando de alunos que não sabiam ler e estes mesmos alunos foram aprovados no final do semestre. Será que eles aprenderam a ler “em um semestre de quatro meses” o que não conseguiram em onze anos na escola do estado ou município?
Falo do professorzinho da rede pública, este que, somente com as teorias da universidade, é jogado em uma arena todos os dias, este profissional que sustenta, ou tenta sustentar, sua família com um salário deficitário, que não tem direito de se aperfeiçoar, afinal, não há como substituí-lo, é o sujeito que é concursado em duas matrículas que somam quarenta horas, muitas vezes com 18 turmas, cada uma com uma média de 35 a 40 alunos, mas que se vê obrigado a trabalhar sessenta horas, este profissional que está perdendo todos os direitos adquiridos, que só pode gozar sua licença-prêmio nas vésperas de se aposentar, afinal, para usufruir o direito adquirido ele perde sua lotação, ou seja, ao retornar da licença-prêmio, poderá ser transferido para a Picada Sabão ou quem sabe para a Picada das Antas, ou, se não andar nos trilhos direitinho, vai direto para Restinga Seca (nada contra estes lugares, o fato é que ficam bem longe de minha residência atual) . O secretário da educação ( alguém que já foi professor... coisa difícil de acreditar, a julgar pelas suas colocações fantasiosas a respeito da realidade triste que nos assola), no dia 5 de março de 2010 declara, no jornal Zero Hora, que não há falta de professores. Será que ele conhece a realidade da secretaria que administra? É claro que não é vacância momentânea, é carência de professor mesmo. Diz que para casos de carência há os contratos e que o procedimento é demorado. Então por que não muda o procedimento? E por que contratar, se tantos passaram em concursos e não foram chamados? Estamos vivendo uma situação em que qualquer um pode ser professor de qualquer coisa. Até eu, ateia convicta e praticante, ministrei aulas de religião ( ou valores morais...devem ter mudado o nome porque valores qualquer um pode dizer que tem, mas se são bons... bem, aí a conversa é outra), claro que só fiz isto “sob livre e espontânea pressão”, pois se não me submetesse a lecionar religião ou valores morais eu seria transferida para outra escola.
Por que, neste país, a moralização começa debaixo para cima? Sempre é o oprimido que tem de dar o exemplo ( claro que o oprimido tenta, sempre empurrado e obrigado pelo opressor, porque não tem ou não sabe como se defender).
Na universidade passamos por momentos mágicos, mas quando chegamos na escola pública a realidade é bem outra: os professores não são bonitos, simpáticos e cheirosos como nossos mestres do curso superior, não tem showzinho, não tem data show, e quando tem, o infeliz fica constrangido por não saber usá-lo, as turmas são muitas e infindas e o professor novo chega cheio de energia, cheio de sonhos e vai sendo boicotado, vetado, coibido, apunhalado, constrangido, aviltado, vilipendiado, dia após dia. O mundo é windows , mas o governo oferece Linux ( e sem poder mudar... é proibido) e a sala de computadores fica quase em desuso porque é preciso esperar que o colega mais sabido tenha tempo de ensinar, mas os registros permanecem: “o governo oferece informática”. E o professor? Bem chega um tempo que esgota a sua vertente “invencionática”. De repente, do nada, sem uma capacitação, nos atiram uma nova metodologia, não tão nova, diga-se de passagem, muito bonita e não menos distante da realidade de quem está assoberbado com tantas turmas e diferentes adiantamentos... esta nova metodologia esbarra no financeiro, na carga horária, na ausência de material para os alunos. O que as pessoas não sabem é que não veio material para todos os alunos. Muitos querem saber quanto o governo gastou com LIÇÕES DO RIO GRANDE, quem elaborou este farto material para ser usado durante um mês? Os autores ganharam um adicional? O material é interessante, não podemos negar, mas... como será no mês de abril? Quem comprará os cds e os filmes que o professor precisa usar? Sim, porque pirataria é crime e precisamos ser exemplo para nossos alunos. A escola bancará o xerox? (só para não dizer que não falei dos espinhos... xerox também é ilegal). E o tempo? Por que o professorzinho do estado não têm dedicação exclusiva? Se tivesse tempo de planejamento ele seria mais bem humorado, talvez. Como podemos preparar 32 aulas exitosas em apenas quatro horas... e o coitado do professor que não almoça e é jantado pelo sistema que insiste em colocá-lo como o grande vilão da tragédia cultural que há muito já está instaurada em nosso país, em nosso estado. Por que será que há tantas licenças de saúde? Será mesmo que este profissional é um preguiçoso, um vadio? Será mesmo que ele é capaz de inventar uma depressão e passar na perícia? Bem, se aventarmos que ele é preparado o suficiente para simular tudo isto, ainda assim eu pergunto: será que tudo está mesmo bem? O que leva este profissional a fazer isto? É lógico que nada está bem na vida do professorzinho. Eu afirmo: se há um grande número de professores evitando a sala de aula “há algo de podre no reino da Dinamarca”, algo não está bem na vida destes profissionais.
Dizem-nos que o nosso verdadeiro aprendizado virá com a prática, mas é neste exato momento que descobrimos que nossas constatações de nada valem, nossas ideias não são levadas em consideração se não tiverem sido ditas anteriormente por um teórico famoso. Não temos direito de ter ideias sem citar o fulano, o sicrano e o beltrano que estudou não sabemos onde e escreveu não sabemos o quê... não sabemos porque falta tempo para leituras, para um aperfeiçoamento digno. O que constatamos não têm valor porque somos preguiçosos, incompetentes, mal humorados. Pelo menos nossas ideias e constatações são nossas mesmo, fruto de nossas vivências e labuta diária. Não estamos com dólares nas nossas desbotadas calcinhas e cuecas. Levamos cadeiradas, bofetões e temos de ouvir todos os dias acerca de nossa incompetência. Eu me pergunto: por que meus pais me colocaram na escola? Antes tivessem me cortado um dedo para que eu me tornasse chefe desta nação.

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