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sexta-feira, 1 de agosto de 2008

DAGMA BLOGANDO SOBRE PEDRO NAVA

SOBRE PEDRO NAVA



Falar de Pedro Nava, o escritor, parece algo fácil. "Eu sou um pobre homem do caminho novo das Minas Gerais".

Ao ler sua obra percebemos que o homem e o escritor se misturam, pelo menos é o que acontece em Baú de Ossos.

A estrutura da obra de Nava é fragmentada, uma colagem de conversas orais, memórias da infância, crônicas, cartas e recortes. É construída de restos e, por isso, apontada por Celina F. Garcia como ESCRITA FRANKSTEIN. Ganha vida em suas páginas.

Em seus escritos absorveu o lado mais atraente, o aristocrático. Seus personagens com características negativas são pouco citados. Na ilustre galeria dos Nava encontramos IRIFILA. Ninguém entendia como o marido, um homem elegante e agradável havia casado com uma mulher que, além de feia era dona de um gênio tão difícil: mulher que falava de corda em casa de enforcado e de regime em casa de gordo Quando os azares do casamento eram trazidos por elementos estranhos à família o jeito era suportar com resignação.

Na sua linguagem usa muitas palavras arcaicas, talvez por serem próprias do seu tempo , da sua vivência.

Quanto ao gênero podemos dizer que é uma grande mistura. Trata-se de memória, autobiografia, narrativa e romance.
Arriscamos dizer que Pedro Nava não deixa de ser Borgiano, pois , uma vez que mistura diversos gêneros em Baú de Ossos, às vezes pode se dar o direito de contar o que não existe , deixando-nos na dúvida , pois sendo ficcional o ponto de vista ë do autor.

Algo interessante na página 32 no livro Baú de Ossos é o ciclo da vida que se repete nas características dos descendentes.

Quanto à contextualização: na abertura, o poema de Bandeira já dá a idéia e entrega o que será o livro. PROFUNDAMENTE fala de mortos, de memórias, de coisas e pessoas que fazem parte de um passado distante, aquiescido.

No dia 29 de setembro de 1999 a revista VEJA publica matéria em que uma pesquisadora francesa , Monique Le Moing, revela aquilo que, segundo ela, Nava não teve coragem de assumir: sua homossexualidade. Na verdade a pesquisadora usa o termo CONFESSAR, o que faz uma diferença considerável.

Monique Le Moing apoiou-se, sobretudo, na evidencia literária trazida nas páginas finais de O CÍRIO PERFEITO, carregada de referencias ao tema . O livro termina justamente no ponto em que o personagem COMENDADOR faria uma revelação bombástica. O desenlace aconteceria no volume seguinte, CERA DAS ALMAS, que Nava não chegou a completar.

Acredito que revolver lembranças antigas é uma dolorida, demorada e eficiente terapia. Também sei que muitos aspectos da personalidade do ser humano se manifestam nas suas obras, porém questiono o desrespeito disfarçado de certos ensaios, reportagens e avaliações intelectuais.

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