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quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

BLOGANDO SOBRE MEU MUSEU IMAGINÁRIO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
INSTITUTO DE ARTES E DESIGN
DEPARTAMENTO DE MÚSICA E ARTES CÊNICAS
CURSO DE TEATRO - LICENCIATURA







MEU MUSEU IMAGINÁRIO...




UM STRIPTEASE PARA A PROFESSORA MARINA DE OLIVEIRA









Trabalho apresentado à disciplina de
Fundamentos da Linguagem Teatral,
DMAC,
Universidade Federal de Pelotas
Professora Marina de Oliveira






DAGMA COLOMBY

APRESENTAÇÃO



Quando a professora sugeriu este trabalho fiquei muito empolgada, pois acreditei que iríamos apresentar para os colegas. Eu estava ansiosa para falar, debater, trocar idéias, então ela já foi avisando: “ o trabalho será escrito, vai dar para vocês se mostrarem bastante, mas tomem cuidado... será escrito “. Fiquei pensando: o que ela pretende? Avaliar nossa caligrafia? Não pode ser ... teremos de digitar e colocar nas regras da ABNT... Claro... ela quer mais do que uma simples avaliação... quer nos conhecer. Sinta-se à vontade... escrever é uma forma de desnudar-se.
Saber as preferências cinematográficas e literárias é adentrar à intimidade das pessoas.
Mais de vinte anos de teatro amador em escolas públicas , eis aqui, aos quarenta e dois anos, O MEU PRIMEIRO NU ARTÍSTICO
























SOBRE O FILME O SILÊNCIO DOS INOCENTES


Lançado em 1991, o filme O SILÊNCIO DOS INOCENTES, de 114 m , que retrata a história de uma jovem agente do FBI tentando capturar um perigoso assassino e contando, para isso, com a ajuda de outro assassino não menos perigoso, o psiquiatra Hanniball Lecter, encarcerado por suas práticas de canibalismo. Baseado na obra de de Thomas Harris, e direção de Jonathan Demme, o filme amealhou cinco Oscar , além de ser considerado um marco na história do suspense americano, pois está para o gênero do serial killer assim como O poderoso Chefão está para a máfia, além de representar um salto qualitativo na carreiras dos protagonistas Anthony Hopkings e Jodie Foster.
O suspense americano, o gênero do serial killer se divide em dois momentos: antes e depois de O Silêncio dos inocentes.


MINHAS CONSIDERAÇÕES SOBRE “O SILÊNCIO DOS INOCENTES”

Quando assisti o filme “O SILÊNCIO DOS INOCENTES ” há muitos anos, saí do cinema em estado de choque, ébria, estarrecida. Era uma época linda de minha vida, fazia pré-vestibular e morava com o meu professor de Literatura. Cheguei no cursinho triste e ele perguntou: que aconteceu, Perereca? ( era como ele me chamava, carinhosamente) E eu respondi: fui despejada, estou sem dinheiro, a vida é uma tragédia grega, só não furo os meus olhos porque sou míope, só não mato os meus filhos porque sou virgem, não os tenho. Ele me olhou tão terno e disse: quer morar comigo? Fui morar com ele naquele mesmo dia Ficávamos até altas horas da madrugada escutando mpb, bebíamos vinho e ele me ensinava a apreciar as coisas interessantes da vida. Tínhamos um gato siamês chamado Miró e tudo fazia muito sentido. Sempre gostei de homens com o eu- lírico feminino. Até hoje acredito que o homem ideal, o marido perfeito é um amigo gay com quem podemos transar, um homem feminino. Nesse contexto de mpb, jantares, cinema, é que fomos assistir O SILÊNCIO DOS INOCENTES e eu, justo eu, que nunca usei nenhum tipo de alucinógeno, resolvi realizar uma leitura psicológica do filme. Para mim tudo estava muito claro: Clarice Starling e o doutor Hannibal Lecter, o canibal, eram a mesma pessoa: ele, o lado instintivo, o lado animal e ela. o lado racional. Era por isso que o perigoso canibal respeitava tanto a agente do FBI, ele se enxergava nela, admirava-a e ela correspondia. Houve um momento perigoso e de tamanha suavidade no filme que só um olhar muito envolvido poderia compreender. Foi recomendado à agente que utilizasse a gaveta para troca de documento, mas ela se aproximou do vidro e ele tocou os seus dedos com tamanha delicadeza que não poderia ser lido de outra forma , senão como respeito, admiração. Outro grande momento no filme é quando Clarice é ofendida por Miggs, um dos detentos, e o Canibal come a língua do prisioneiro numa espécie de pleito de reverência à agente do FBI. A única forma de pagamento que o Canibal pedia é que ele pudesse conhecer melhor Clarice e foi esse detalhe que me fez enxergar a simbiose, o entrelaçamento dos dois, as cenas transcorriam como uma terapia de auto conhecimento. Lecter desvendou e ajudou Clarice, mais do que ela mesma poderia supor e isso ocorreu quando o psiquiatra fez vir a tona a caipira que existia dentro dela: Starling tentou, ao fugir do rancho, salvar uma ovelha, mas ela, a ovelha, pesava demais. Quantas vezes, na vida, as ovelhas que não salvamos, por inúmeros motivos, nos perseguem, nos cobram a nossa falta de força ?
A forma como o canibal estimulava o raciocínio de Clarice era de uma inteligência descomunal. Até hoje me surpreendo falando aos meus alunos frases que saiam da boca do doutor Hannibal Lecter, diretamente para a alma de Clarice Starling: “ A paciência é uma virtude.” Eu pergunto para meus pupilos: como nasce o desejo? E fico insistindo até que um deles chegue perto da resposta: o desejo nasce com aquilo que observamos todos os dias. Ele fornecia elementos para que ela desvendasse o assassinato, de forma, eu ousaria a dizer, muito pedagógica, como se Hannibal fosse o inconsciente , repleto de símbolos, e passasse para um nível de consciência, representado pela figura de Clarice e começasse a adquirir significado. Havia elementos nítidos para que eu afirmasse que Hannibal era o inconsciente, o instinto, isso se comprovava com a localização do presídio do canibal. Para Clarice interrogá-lo ela tinha de descer porque a prisão era no fundo, uma espécie de subterrâneo( exatamente como as profundezas de nosso mundo interior).
A patologia de Lecter era extremamente coerente com o sistema de valores que ele demonstrava ter durante a trama O assassino procurado, Búfalo Bill, tinha um padrão: colocava na garganta de suas vítimas uma espécie de libélula muito rara, ou seja ele a importava, criava, alimentava, dava amor, outro elemento importante: as vítimas eram gordas, ele as deixava em um poço fundo , sem alimentação para afrouxar as carnes e tirar a pele, o assassino estava confeccionando uma roupa, um casaco com pele de mulher, então a libélula se aproximava da borboleta , era a metáfora da passagem do casulo para a crisálida, a transformação, por isso, no final do filme, aparece muito nítido em uma bandeira a figura de uma borboleta. Era como se o assassino estivesse se metamorfoseando. E o que era ainda mais assustador: a certeza de que ele não iria parar, porque estava se especializando na tarefa de retirar as peles e quando somos muito bons em determinada atividade, é natural que não queiramos parar, que desejemos fazer melhor ainda.
O que esse filme suscita em mim? A minha porção mulher, a minha porção conto de fadas. Meu professor de Literatura do cursinho foi o meu canibal, aquele alguém que fez parte da tua vida, das tuas escolhas, aquele alguém que soube te compreender, que te afagou quando poderia ter te devorado, te engolido, trucidado. Pude ter o privilégio de vivenciar a bela e a fera que habita todo o ser humano. Eu era apenas uma Clarice tentando me livrar de minhas ovelhas que insistiam em permear meus pesadelos e ele me ensinou poesia, me levava para passear nos lugares mais inusitados, meu professor de Literatura me ajudou a fazer justiça com o Búfallo Bill que se atravessa na vida de cada ser humano e, no final, eu me transformei, passei do casulo para a crisálida e me tornei uma mulher delicada... apesar das ovelhas...
Quanto ao professor de literatura... ah... ia esquecendo... ele morreu...

















ESSE NÃO PODERIA FALTAR NO MEU MUSEU IMAGINÁRIO

Cântico negro
José Régio

"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?
Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.
Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...
Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.
Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


José Régio é um poeta português que figurou como romancista, ensaísta, crítico, dramaturgo, mas foi como poeta que alcançou o reconhecimento. Escrito em 1925, o livro POEMAS DE DEUS E DO DIABO, reuniu todos os temas que posteriormente viria a desenvolver: a questão da sinceridade e suas implicações, a fé, a solidão, os conflitos entre a carne e o espírito, a frustração, entre outros.
O poema escolhido para este museu, reúne alguns desses temas.
Falar de Cântico negro é falar da coragem de tomar decisões e arcar com as consequências, pois na vida “todo bônus tem um ônus”. Cada vez que leio esse poema sou tomada de emoções antagônicas: a felicidade de ter feito uma escolha na hora certa e a tristeza por ter me acovardado outras tantas vezes.
O eu – lírico do poema é alguém que questiona e ironiza a ideia formal de seguir um caminho seguro. Olha para estas pessoas que não ousam seguir suas inclinações com um certo enfadamento e faz exatamente o contrário do que é aconselhado. Ironiza e despreza os caminhos seguros apontados pelos que se julgam com experiência , pois acredita que muitos dos conselheiros não apresentam condições de exercer tal função. Sente-se vitorioso por contestar a vontade da grande maioria , residindo aí o” criar desumanidades”, ou seja, fazer ao contrário daquilo que a humanidade costuma fazer. Orgulha- se da sua loucura, pois esta não está atrelada a filósofos , regras ou qualquer outro tipo de convenção que representaria uma prisão para o eu-lírico. Mas há qualquer coisa de lamento, há qualquer coisa de abandono quando é citado o fato de que todos tiveram um pai e uma mãe. Pode-se ler aí um eu-menino, um eu, de certa forma, desprotegido e que adota uma máscara de fortaleza para conseguir enfrentar a vida. Até o ato de nascer adota uma conotação de bravura, pois ele não nasce , simplesmente, rasga o ventre de sua mãe, demonstrando assim que viver é, acima de tudo, uma luta, um romper barreiras, obstáculos. Muitas vezes as pessoas não sabem dos sonhos, aspirações, medos, desejos, não conseguem responder aos questionamentos alheios e se arvoram a emitir opiniões , portam-se como velhos avós a traçar um caminho que, talvez fosse bom para muitos, mas não para todos. Prefere o sacrifício de um destino tortuoso, cheio de barreiras, opta por correr o risco de machucar-se em sua trajetória do que seguir moldes convencionais. Ousa sonhar, enfrentar abismos, preservar sua personalidade do que ser um igual entre os demais. O eu -lírico é intenso, experimenta tudo . A imagem poética de ser filho de Deus e do Diabo oferece a possibilidade de transitar em universos antagônicos, paradoxais. Para concluir a persona poética pode até não saber o que quer ,mas sabe exatamente o que não quer.













PEÇA DE TEATRO NO MEU MUSEU IMAGINÁRIO? ALGUÉM DUVIDOU QUE SERIA MEDEIA?

O que Medeia suscita em mim?
Para mim, Medeia é uma leitura de todas as mulheres. Acredito firmemente que todas temos um anjo e uma feiticeira que habita nossos mais íntimos esconderijos . Claro que quando estamos no nosso juizo perfeito, não saímos matando criancinhas, mas... há outras maneiras de aflorar a Medeia que nos é peculiar sem nos comprometermos com a lei. Minha Medeia não se vale de violência... se vale de inteligência...


BREVE RESUMO

AS AÇÕES NO PASSADO

Medeia apaixona-se pelo forasteiro Jasão, que sai de Iolcos e chega em Corinto para buscar o Velocino de ouro. Ela ajuda a construir o grande cidadão que é Jasão, mas ele desposa Glauce e a abandona.
Por que Jasão queria o Velocino de ouro? Na verdade, Jasão era o verdadeiro herdeiro do trono de Iolcos, mas quem estava no poder era seu tio Pélias, meio irmão de seu pai. Pélias deveria entregar o trono para Jasão assim que ele atingisse a idade adequada, mas Pélias manda Jasão em uma missão na Cólquida para recuperar o poderoso talismã, o Velocino de ouro, acreditando que Jasão não retornaria vivo dessa missão. Chegando lá, Medeia, a guardiã do Velocino se apaixona por Jasão . Éetes o rei da Cólquida não concorda com a união dos dois e elabora missões impossíveis e perigosas para Jasão realizar. Entre essas tarefas , ele deveria atrelar dois touros com cascos de bronze e que cuspiam fogo. Medeia oferece para Jasão uma poção que torna o corpo do seu amado imune aos perigos e ele consegue realizar a tarefa, mas o pai de Medeia recusa-se a cumprir o trato e manda atear fogo em Argo, o navio de Jasão, com toda a tripulação dentro. Novamente, Medeia é quem resolve o problema, salva os tripulantes e foge com Jasão e os argonautas. O irmão de Medeia , Absirto, vai ao encalço, Medeia o mata, esquarteja e distribui os pedaços do corpo para que o seu pai se atrase juntando as partes do filho, porque era importante dar um funeral digno aos familiares. Quando chegam em Corinto, Jasão resolve, por questões políticas, tomar por esposa Glauce, filha de Creon, que é o rei de Corinto. Medeia não aceita essa situação.,mas ela é uma estrangeira, uma bárbara, o casamento com Jasão sequer é reconhecido em Corinto. Sente traída, humilhada, vilipendiada, abandonada e só, porque não pode sequer voltar para sua terra. Não aceitando as explicações de Jasão, Medeia arquiteta a sua vingança: finge que está conformada com a situação e oferece para Glauce,o manto dos fogos inextinguíveis, manto este que, ao entrar em contato com o corpo, rompe em chamas. Creon se desespera e tenta salvar a filha, mas também morre. Não satisfeita, Medeia mata os seus dois filhos para castigar Jasão. Agindo desta maneira (matando Glauce e as crianças) ela acaba com a descendência de Jasão e este é o pior castigo para ele, na visão de Medeia. Que sentimentos carrega alguém que abre mão de sua família, mata seus entes queridos e é descartada pelo companheiro, o qual desconsiderou toda uma trajetória de cumplicidade?



AS AÇÕES NO PRESENTE

A história de Medeia tem seu início com a ama fazendo considerações acerca de sua senhora, do medo que a mesma inspira e do que essa é capaz. A ama teme pelas crianças. Medeia foi ferida de amor por Jasão que desposou, sigilosamente, Glauce, filha de Creonte, rei de Corinto.
Em conversa com o pedagogo (serviçal ou escravo que tomava conta dos filhos de Medeia e era responsável pela educação dos mesmos) a ama fica sabendo que Creonte expulsará Medeia de Corinto. Creonte conversa com Medeia e diz que ela não pode mais ficar em Corinto porque representa uma ameaça para Glauce e à casa real. Medeia implora para ficar apenas mais uma noite. Muito contrariado, Creonte acaba consentindo.
Durante toda a trama, o coro, representado por 15 mulheres de Corinto, fica, em vão, aconselhando Medeia a não cometer uma ação terrível.
Egeu, rei de Atenas,filho de Pandion, encontra Medeia e conta a ela que atravessa problemas porque não pode ter filhos. Medeia desabafa com ele , narra a traição que Jasão realizou contra ela e propõe uma espécie de troca de favores : ele a acolhe e ela oferece ao rei de Tebas a possibilidade de procriar, pois conhece muitas ervas. Egeu aceita, mas ela deverá sair de Corinto por sua própria vontade a fim de não comprometê-lo. Medeia ganha tempo para realizar a sua vingança: finge para Jasão que está conformada, mas deseja que ele e sua jovem esposa tomem conta dos filhos tidos com ele. Diz que irá enviar presentes para a jovem princesa. Jasão acha desnecessário que tais ações sejam levadas a efeito, ao que ela rebate argumentando que as pessoas se deixam seduzir por belos presentes e finalmente ele concorda.. Medeia envia para Glauce um véu embebido em forte veneno que, ao entrar em contato com Glauce, rompe em chamar e a mata, deixando-a irreconhecível para a maioria das pessoas, mas seu pai Creonte a reconhece e ao abraçá-la também acaba sendo envenenado e ambos morrem.
Um mensageiro avisa Medeia do acontecido e a aconselha a fugir, mas ela pede que ele narre como os fatos aconteceram e o mensageiro assim procede. Medeia fica feliz com a notícia. Prepara-ser psicologicamente, faz com que a razão se sobreponha a emoção e mata os filhos. Quando Jasão chega para salvar as crianças da possível vingança dos parentes de Glauce e Creonte, os meninos já estão mortos. Ele quer beijá-los, prestar honras fúnebres, mas ela não deixa porque ele poderia tê-los beijado antes, mas preferiu bani-los. Eles tem uma última discussão e Medeia parte em um carro alado que foi a ela dado pelo seu avô o, o sol.

SOBRE OS PERSONAGENS

MEDEIA: Medeia, que nasce na Cólquida, uma terra de magos, é uma grande feiticeira, a guardiã do Velocino de Ouro. Por amor a Jasão, ela mata, rouba, foge, rompe laços com a família. Percebemos na protagonista, a coragem de uma mulher a frente do seu tempo. O grande diferencial de Medeia é que ela ousou escolher o próprio companheiro. Quando Eurípedes poetisou Medeia, as mulheres daquele tempo assistiam ao espetáculo e deviam se reconhecer na figura da protagonista. As jovens iam para o casamento sem saber o que estava por vir. O marido tinha sobre elas direito de vida e morte.
AMA: Serva de Medeia. É também ela que antecede os acontecimentos (Prólogo). É uma figura grotesca, tem medo das ações de sua ama, mas sua linguagem mostra que ela não aprova, mas compreende a ama, apesar disso, não se pronuncia contra Jasão e não o quer mal. Quem afirma categoricamente que Jasão não é amigo é o Pedagogo (serviçal que cuida dos filhos de Medeia)
JASÃO: Sabe-se que Jasão foi criado pelo centauro Quiron, o que nos oferece a possibilidade de realizar a leitura que o enfocaria com um eu lírico metade homem, metade cavalo. Na evolução da tragédia, podemos perceber que, na grande maioria das vezes a porção animal se apropria de Jasão, principalmente quando ele procura outra esposa e busca outra filiação. Essa questão de busca de uma filiação mais nobre, mais pura , mais perfeita é a supremacia do lado animal. O grande amor de Medeia, um grande e ambicioso guerreiro que sai de Iolcos e se dirige para a Cólquida para tomar posse do Velocino. Jasão é um homem político e, como tal, coloca a razão acima da emoção e isso pode ser comprovado pelos seus diálogos, pela sua linguagem. Jasão acha que Creon está certo ao expulsar Medeia de Corinto porque, afinal, ela é uma bárbara, devia se sentir feliz por ter filho gregos e viver na civilização e não agiu certo falando contra a casa real.
CREON: Rei de Corinto, pai de Glauce, a personagem com quem Jasão contrai núpcias. Creon conhece os poderes de Medeia e fica sabendo que ela fala contra a casa real e, temendo por sua filha, ele a expulsa de Corinto.
EGEU: É rei de Atenas e filho de Pandiom. Egeu procura Medeia porque não pode ter filhos. Medeia, conhecedora de ervas e poções, oferece-lhe a possibilidade de ser pai, se ele a acolher, uma vez que foi expulsa de Corinto por Creon.
CORO: O que se pode apreender do coro é que a sociedade não aprovou a atitude de Medeia, embora reconhecesse que Jasão agia de forma errada.


Esta escolha (Medeia) permite adentrar o universo feminino e seus aspectos mais íntimos, mais assustadores.
A preferência por Medeia está intrinsecamente ligada à ideia de podermos fazer aproximações com fatos atuais e personagens mais contemporâneos. Por exemplo: não nos é novidade encontrar em jornais, notícias que narram a história de mulheres que, ao se sentirem abandonadas, matam os seus filhos para castigar o companheiro. Entende-se esse fato como a supremacia da fêmea sobre a mulher, pode-se até discutir o mito do amor materno de Elizabete Badinter. Fica uma interrogação: O que é mais forte em Medeia de Eurípedes e Jocasta, personagem criada por Sófocles, a fêmea ou a mãe? Não é possível afirmar que elas não amavam seus rebentos, mas pode-se aventar a possibilidade de elas amarem mais os seus parceiros, porque ambas conviviam pouco com os filhos e se doavam bem mais para seus homens. Pode-se também estabelecer uma intertextualidade de MEDEIA com TUDINHA, personagem do conto O NEGRO BONIFÁCIO do autor gaúcho SIMÕES LOPES. Quando Tudinha se sente traída por Bonifácio com “uma chirua com ar de querendona” ela que era vista como “uma chinoca airosa, lindaça como o sol, fresca como uma rosa” (LOPES,Simões.2004.p.23) ao final do conto, descontrolada, raivosa, enlouquecida, esmigalha com uma faca o pênis do negro e, então, BLAU NUNES, o vaqueano, nos fala quase que como um Eurípedes dos pagos,às avessas, é claro: “Mulheres, mulheres, estancieiras ou peonas... é tudo bicho caborteiro... a mais mansa de todas elas, tem mais malícia do que um sorro velho” (LOPES, Simões.2004.p.30) Poder-se-ia justificar argumentando a respeito das semelhanças entre Medeia, Bibiana, Maria Valéria, Talapa, Rosa e tantas outras personagens femininas que permeiam o universo literário, justifica-se essa escolha por abrir a possibilidade de podermos falar sobre uma leitura de todas as mulheres.

Eurípedes surpreendeu a sociedade de sua época porque demonstrou, através de sua obra, a fragilidade de sua fé. Não eram comuns nas outras obras desse período, o espírito crítico e o ceticismo presentes na obra do dramaturgo.
A mulher, na sociedade grega, não era considera cidadã, mulheres e crianças eram membros da família, mas só indiretamente eram membros da cidade, por ser esta a sua pátria. A sua única possibilidade de participação social eram os esportes. Fora isso o que restava era o casamento, o qual era apenas um negócio, uma aquisição, através da qual se transferia a tutela do sogro para o genro e, através dessa compra, se obteria os descendentes e os filhos varões eram os realmente esperados. A jovem se dirigia para o matrimônio sem saber direito o que iria encontrar. Se tivesse sorte de casar com um marido afável, teria uma vida sem maiores problemas, caso contrário, estaria a mercê de alguém que tinha sobre ela o direito de vida e de morte.
A partir do século VI a.C. na Grécia, por ocasião do nascimento do teatro através dos rituais da elite, surgem as tragédias. No século V a.C., é o contexto no qual acontecem as obras de Eurípedes. Nesse momento também acontecem simultaneamente as obras de Sófocles e Ésquilo. Para Eurípedes as principais inovações de suas tragédias são os prólogos explicativos e o Deus ex-machina que surgia para solucionar uma questão de conflito. O coro para ele também só apresentava uma função ocasional e indireta, ao contrário da encenação e da indumentária que ganhava espaço em sua tragédia, mas o público nem sempre esteve de acordo com as inovações técnicas de Eurípedes, que também aparecem na versificação insólita, no abandono das estrofes e nos acompanhamentos musicais inusitados.




ENCERRAMENTO

Ao analisar as três obras escolhidas qualquer psiquiatra ou psicólogo diria: a Dagma é bem humorada, um pouco desprotegida, um pouco abandonada, um pouco mascarada. É apenas uma, como tantas outras, que luta com as armas que tem. Uma mulher forte. É capaz, como Medeia , de engolir seco para poder responder a altura na hora exata. Digamos que é uma pessoa que não liga para a opinião alheia, mas não pode viver sem saber o que estão pensando dela. Talvez um ser complexo, talvez um complexo de seres. É... sou eu...




















REFERÊNCIAS :


EURÍPEDES. Medeia. Tradução: David Jardim Jr., Introdução: Assis Brasil. Rio de Janeiro: Tecnoprint, 1988. 137 p. (Clássicos de bolso). ISBN

LOPES, Simões.Contos Gauchescos.Porto Alegre.Meridional Ltda.2004

SILÊNCIO dos inocentes. Direção: Jonathan Demme. Produção: Edward Saxon e Kenneth Utt . Roteiro:Ted Tally( baseado em livro de Thomas Harris). Intérpretes:
Anthony Hopkins , Jodie Foster e outros. EUA. Orion Pictures Corporation.1991. 1 DVD
Disponível em: Acesso em 16 mai.2009.
Disponível em:e . Acesso em 16 mai.2009.
Disponível em http://www.adorocinema.com/filmes/silencio-dos-inocentes/silencio-dos-inocentes.asp acessado em 16 e 17 de junho de 2009
Disponível emhttp://www.cinemacafri.com/filme.jsp?id=104 Acessado em 17/06/2008
Disponível em: http://www.releituras.com/jregio_menu.asp acessado dia 18/06/2009

Um comentário:

Platero disse...

ai dagma, gaTAis é a melhor!
ri mt com teu comentário!
bjs e continue amando a medeia, mas a fedra tb é maravilhosa!
feliz 2010 para ti e para alberta!