APRENDIZ DE LOUCO OU... O DIA EM QUE COMI MEU PSIQUIATRA...
O psiquiatra era tão
previsível, tão básico,
tão monótono que
falara ao pobre
aprendiz de louco
estas coisas
que qualquer louco sabe:
complexo de Édipo
transferência,
mal da filha mais nova.
O louco queria mais:
queria síndrome do pânico
transtorno alimentar,
transtorno de personalidade
ou , quem sabe, bipolar,
medo do escuro,
pesadelo,
tristezas sem motivo.
O louco só não queria
uma consulta que
não valesse a pena.
Sorriu um sorriso
irônico e fosco e tosco
que é peculiar a todos os loucos...
Doutor... eu sou louco,
mas não sou burro...
Foi então que o aprendiz
de louco esfaqueou o terapeuta e, com a arte
dos açougueiros, que precisam
que os clientes não associem
a carne a algo que foi
vivo um dia, foi promovido
a louco mesmo.
Na hora do enterro o
doido tocava flauta e ouvia
música clássica ao mesmo
tempo. Dizem os normais
que dos pedaços daquilo que um
dia foi um médico,exalava cheiro de
pétalas de
rosa e cheiro de capim
molhado. Dizem que aquilo
que parecia ter sido a boca
do médico sorria... Mas
ninguém falou em transfiguração
da realidade, nem em realismo fantástico
Alguns acharam
inusitado,
imprevisível (aquilo que
não é previsto, que não é
esperado)
“Mas doutor, não é o
ser humano infinitamente
monótono na sua essência?
O que é que se espera
de um ser humano que
é simplesmente humano?
A natureza do ser humano
é Freudianamente monótona,
caríssimo doutor.
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